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'Tinha medo do meu pai', diz Vargas Llosa Peruano abriu ciclo de debates na Feira do Livro de Guadalajara, ao lado de Herta Müller SYLVIA COLOMBOENVIADA ESPECIAL A GUADALAJARA Não parecia haver muito em comum entre o peruano Mario Vargas Llosa, 75, e a romeno-alemã Herta Müller, 58, além do fato de serem ambos ganhadores do Nobel de Literatura. Mas o debate de abertura da 25ª edição da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, no domingo (27), construiu pontes entre a América Latina e a Europa do Leste. Primeiro foi a tentativa de entender a figura paterna. Müller é filha de um oficial nazista, enquanto o pai de Vargas Llosa era um autoritário defensor da educação militar. "Eu precisava entender por que ele acreditou no nazismo, por que deixou-se cegar aos 17 anos. Eu era adolescente, queria respostas e as encontrei na literatura", disse Müller. Já Vargas Llosa conheceu o pai aos 11 anos. Foi traumático. "Tinha muito medo dele, e a literatura virou uma possibilidade para que eu mantivesse a dignidade." Depois, eles relacionaram política e literatura. Müller contou como cresceu na Romênia do ditador Nicolae Ceausescu (1918-1989). "Na minha casa, não havia livros. Morávamos num povoado, e o camponês fala pouco. Não existia imprensa nem opinião pública. Comecei a ler para entender porque vivíamos assim." Llosa lembrou de uma entrevista em que Jean-Paul Sartre (1905-1980) dizia entender que autores africanos deixassem de escrever para se dedicar a mudar seus países. "É um equívoco pensar assim. Venho de um país com imensos problemas sociais, mas não concordo que a literatura seja algo supérfluo. Ela nos torna sensíveis para entender os problemas." Müller disse que se perguntou se escrever era legítimo em seu país enquanto pessoas tinham fome e frio. "Mas pensava também que a literatura poderia ser um modo de tranquilizar os que sofrem." Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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