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Quadrinista lança manual para tímidos

Colaborador do 'Folhateen', Bruno Maron publica livro com dicas para uma vida menos sociável e mais isolada

Ideia para 'Manual de Sobrevivência dos Tímidos', que é lançado hoje pela editora Lote 42, surgiu em 2001

RAFAEL RONCATO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O quadrinista carioca Bruno Maron, 34, se considera um tímido.

Quem vê suas tiras publicadas no "Folhateen" ou no blog Dinâmica de Bruto, não imagina que por trás daqueles desenhos sujos, distorcidos e "toscos" --como ele mesmo define-- combinados com a crítica ácida sobre o comportamento "grotesco" de nosso cotidiano, há alguém que evita os holofotes.

Mesmo assim, ele faz questão de frisar e exemplificar a própria timidez --e a de outras tantas pessoas-- ao lançar seu primeiro livro por uma editora, o "Manual de Sobrevivência dos Tímidos".

"Nos quadrinhos, gosto de falar sobre vários aspectos do comportamento humano, sem salientar nenhum específico em detrimento de outros. O livro é sobre um assunto, demandou um esforço maior para pesquisar, até porque as pessoas não gostam muito de falar sobre a própria timidez", conta Maron.

No lugar dos garranchos espinhosos pelos quais o autor é conhecido, o "manual" traz os famosos bonequinhos das cartelas de emergência de avião guiando o leitor através de diversas sugestões para dar ao tímido uma vida menos sociável e mais próxima do isolamento completo.

"Acho que um assunto tão universal como timidez casava muito bem com esse tipo de desenho, que além de ser universal, também transmite o horror das situações de vergonha tímida", afirma.

Mesmo não sendo um livro de quadrinhos, pontua-se nele um humor influenciado por Laerte, Glauco e Angeli, grandes referências na vida de Maron.

Por mais que o "Manual de Sobrevivência dos Tímidos" seja uma novidade editorial, o livro em si parece ter sofrido um ataque de timidez: foram dez anos para a publicação ver a luz do dia.

A ideia surgiu em 2001, bem antes da incursão do autor pelos quadrinhos, numa fase que ele se encontrava com dois amigos para criar "projetos que iriam salvar suas vidas" --uma desculpa para falarem besteira.

Entre um papo e outro, todos concluíram serem tímidos e usarem infinitas táticas e falcatruas para a fuga do contato social ou simplesmente disfarçar a timidez.

"Aí veio a fagulha. Fiz o manual como projeto final da faculdade de design, mas foi tudo apressado. Quando me formei, tive a intuição de que aquela ideia poderia ter sido mais bem aproveitada. Entendi que não tinha maturidade para tocar aquilo, faltava repertório visual, literário e humorístico para não passar vergonha. Dez anos se passaram, eu não amadureci, mas mesmo assim lancei o livro."

ADVERTÊNCIA

O aviso logo no início do manual é claro: "Lamento, mas este não é um livro de autoajuda".

Através da conhecida verborragia nos quadrinhos, Maron não busca fazer um guia prático para tornar a pessoa tímida o extrovertido da última semana ou um sucesso de público e crítica.

Para ele, o tema é pouco explorado no humor, o que se tornou um prato cheio para quem pratica a ironia e o sarcasmo com naturalidade.

Entre tantos exemplos expostos no livro, como "inadequose", ensaios psíquicos e urina travada, alguns foram retirados de experiências pessoais para tornar a piada ainda mais real.

"Parto do princípio de que para sacanear o mundo você tem que ter a decência de se sacanear primeiro", diz.

"Quando você é honesto consigo mesmo e constata que boa parte da timidez é vaidade em excesso, cai uma máscara e surge a possibilidade de zombar de si. Rir de si mesmo é um antídoto maravilhoso para aniquilar a timidez, mas ao mesmo tempo serve como um recurso canalha para mascarar uma vaidade tão monstruosa que precisa ser golpeada incessantemente para não se tornar um tumor", explica.

Mas será que de alguma forma o livro serviu para ele melhorar a própria timidez?

"Escrever esse livro foi terapêutico, porém não me atreveria a dizer que isso melhorou a minha timidez. Acho que no fundo só ampliou o meu leque de mutretas pra disfarçar a minha condição", diz Maron.

"Subir num carro alegórico e ficar sambando (usando apenas um tapa-sexo) seria uma atitude muito mais transformadora."


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