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Contos de Junot Díaz narram a traição

Premiado escritor dominicano volta ao personagem Yunior nas narrativas interligadas de 'É Assim que Você a Perde'

Livro sai cinco anos após o celebrado 'A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao', vencedor do Pulitzer de ficção

RAQUEL COZER COLUNISTA DA FOLHA

Junot Díaz é um escritor lento. E, para cada um dos nove contos que incluiu em "É Assim que Você a Perde" (Record), escreveu e descartou outros dez, segundo calcula. O resultado foi que o livro lhe tomou 15 anos.

Não em tempo integral, é verdade. No ínterim, o dominicano radicado nos EUA escreveu um romance, "A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao", que lhe rendeu em 2008 o Pulitzer de ficção.

Mas dois lançamentos em 15 anos (ou três no intervalo de 16, se considerada a estreia, com o volume de contos "Drown", de 1996) não chegam a impressionar no quesito produtividade.

"Deus sabe quantos livros vou ser capaz de escrever", comenta, por telefone, de Nova Jersey, tão lentamente quanto diz que escreve, fazendo pausas e corrigindo as palavras, o autor de 44 anos. "Se você tiver um filho recém-nascido, meu próximo romance deve sair quando ele entrar na faculdade."

É o perfeccionismo que faz o processo demorar tanto --e garante a resposta positiva de crítica e público. "É Assim que Você a Perde" não chegou a ser celebrado como "Oscar Wao" (vencedor de oito prêmios e best-seller do "New York Times" por dois anos), mas consolida sua reputação, o que inclui uma indicação ao National Book Award.

É uma sofisticada reunião de contos, que podem ser lidos de forma independente, mas, juntos, integram uma espécie de romance fragmentado --que se relaciona aos outros títulos do autor.

O protagonista é o mesmo Yunior que surge em "Drown" e narra "Oscar Wao", um latino vivendo nos EUA desde pequeno, assim como o autor. No novo livro, lida com o amor e a traição (cometida por Yunior, pelo irmão, pelo pai) ao longo da vida.

"Sou da República Dominicana, e a quantidade de cuernos' que as pessoas de lá põem umas nas outras é uma coisa fora do controle. Cresci num bairro em que todos traíam, e nós, crianças, sabíamos disso, embora houvesse um silêncio a respeito."

A imigração, tema predominante na obra de Díaz, continua a aparecer sem ser necessariamente analisada. Apenas está lá, no "espanglês" falado pelos personagens, o que só torna mais marcante sua presença.

GRANDE ROMANCE

Voltar a Yunior a cada livro tem sido difícil ("Por um lado há a familiaridade, o que é bom; por outro lado, há a familiaridade, o que é ruim", resume Díaz), mas a meta é escrever outros três até formar "um grande romance sobre Yunior", do qual cada volume será um capítulo.

Não é preciso conhecer as obras anteriores para entender "É Assim que Você a Perde", mas quem tiver lido "Drown" (inédito no Brasil) achará mais fácil perceber por que, dentre os contos narrados por Yunior, há um protagonizado por uma mulher.

Quanto aos títulos futuros, o provável é que não apareça mais nenhum de contos, ao menos não tão meticulosamente interligados.

"Acho que daqui para frente ficarei nos romances. Fazer contos dá muito trabalho. Uma parte de mim ama esse jogo, mas a verdade é que é um pé no saco."


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