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Aos 60, Bruna diz não se preocupar com números
DE SÃO PAULOQuando a atriz e roteirista Bruna Lombardi fala de si, desenha-se uma grande personagem. Ou muitas. "Sou hipertransparente. Não quer dizer que eu não tenha milhões de leituras. E que muita gente não saiba me ler."
Bruna diz acreditar que "a comunicação é uma frequência". Ou seja, para que ocorra, é preciso que os interlocutores estejam na mesma sintonia, o que não é evidente.
"Estou aqui fazendo o maior discurso e você pode estar me achando uma idiota", diz ela, observando que a hipótese de ser mal compreendida não a inquieta.
"A única coisa sobre a qual não se tem nenhum controle é como as pessoas te veem. E essa não pode ser uma preocupação, porque você já está preocupada em ser, que é uma grande tarefa."
No entanto, na profissão que tornou Bruna famosa, a imagem é o índice de sucesso por natureza. Ela não nega isso, mas diz não ter lutado para ser famosa.
Junto com as novelas da Globo nos anos 1980 ("Louco Amor", "Roda de Fogo"), vieram o sucesso e a ideia de que "a fama é uma proteção". Como exemplo, cita que artistas visitavam presos políticos durante a ditadura militar.
"As informações chegavam até os artistas. Uma vez, fui a Alagoas, porque me disseram que um grupo de mulheres consideradas terroristas pela ditadura estava preso num convento", afirma.
E o que Bruna fez? "Blefei. Disse que a imprensa estava me esperando no aeroporto, para saber em que condições as prisioneiras estavam."
Olhando em retrospectiva, ela diz: "Atravessei uma bela parte da minha vida vendo e participando de coisas". Hoje, aos 60, diz não ter "preocupação com números, por isso eles não pesam".
Anda preocupada em ser "leve" e "abrangente". De tanto buscar "tratar tudo com leveza" e "o esplendor de cada momento", ela diz que "talvez um dia levite". Como seria? "Não estou perto."