'Cyrano de Bergerac' mira ditadura do politicamente correto

Depois de interpretar Renato Russo por quatro anos, Bruce Gomlevsky vive um dos mais emblemáticos personagens da dramaturgia mundial, Cyrano de Bergerac.

O personagem-título do clássico de Edmond Rostand, cuja nova montagem estreia no sábado, é tão narigudo quanto incorruptível.

"Acho importante montar a peça agora. Trata-se de um personagem que defende a verdade a qualquer custo e que não se vende pela fama", afirma Gomlevsky, que divide a cena com 14 atores.

Para ele, "Cyrano de Bergerac", de 1897, surge como contraponto à ditadura do politicamente correto atualmente em vigor. "Quanto cada um pode mesmo falar o que pensa hoje?", provoca.

Por dizer o que tem vontade, Cyrano de Bergerac faz inúmeros inimigos já na primeira cena.

Em um de seus solilóquios, Bergerac dá uma aula de ética e civilidade. Afirma, entre outras coisas: "Quer que eu busque a proteção de algum nobre e poderoso mecenas e suba com ajuda alheia em vez de subir com o próprio mérito? Não, obrigado [], sou orgulhoso demais para me transformar em um parasita. Talvez não chegue ao topo da montanha, mas o que dela eu conquistar terá sido sozinho".

Bergerac só não diz o que sente para sua amada, Roxane. Devido ao nariz avantajado, julga-se demasiado feio e não merecedor de seu amor.

Com a montagem, Gomlevsky realiza um sonho que acalenta há quase duas décadas, desde quando assistiu ao filme "Cyrano de Bergerac", com Gérard Depardieu.

Na época em que viu o longa, estava começando a fazer teatro. Segundo conta, ficou atraído não só pelos valores de Bergerac mas também pela versatilidade da obra, que combina humor, história de amor, drama e aventura.

Quando conseguiu patrocínio do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), encomendou uma tradução mais coloquial do texto e convidou o diretor João Fonseca. "Eu me interesso pelo conceito de teatro popular de arte. Quero tocar as pessoas com uma dramaturgia consistente", resume o ator.