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Filme traça o curioso DNA 'Hava Nagila'

Documentário americano 'Hava Nagila (O Filme)' narra como o tema religioso judaico virou um fenômeno pop

Produção que será exibida em SP segue a canção desde o interior da Ucrânia até o desenho 'Os Simpsons'

DE SÃO PAULO

Quando concluiu seu filme anterior, um documentário dramático sobre a poeta húngara Hannah Senesh, morta pelos nazistas na Segunda Guerra, a americana Roberta Grossman ouviu um apelo da filha, então com dez anos. "Mamãe, será que da próxima vez você pode fazer um filme alegre?", disse.

A documentarista matutou, matutou, até que achou um tema apto para atender ao pedido da menina. "Nada na minha vida parecia mais alegre do que Hava Nagila'", diz Grossman à Folha.

Quando pesquisou o que dizia a canção descobriu que era isso que expressava. "Hava naguila/hava naguila/hava naguila/venis'mecha", início da letra, significa, em hebraico, "Alegremo-nos, alegremo-nos, alegremo-nos e sejamos felizes". Mas "Hava Nagila (O Filme)", documentário que Grossman fez sobre o tema (e que será exibido amanhã, às 20h30, no Centro da Cultura Judaica), mostra que nem sempre ele foi uma ode à alegria.

Quando começa a empreender o "Havaquest" (a busca de Hava, como brinca no filme), ela descobriu que, em sua origem, a música, ainda sem letra, era murmurada lentamente numa sinagoga específica de um antigo assentamento judeu chamado de Sadagora, na Ucrânia.

Grossman e sua câmera foram até lá. De "Hava Nagila" sobrou muito pouco.

O filme conta que até o final do século 19 e começo do 20, cerca de 5 milhões de judeus viviam na região. Hoje ficaram as ruínas da tal sinagoga onde o rabino local Yisrael Friedman (1796-1850) conduzia cerimônias religiosas concorridas.

Ele é um possível "compositor" da melodia base de "Hava Nagila", à época cantarolada como um "nigun", tipo de música em geral apenas murmurado, sem letra, muitas vezes como reza.

No começo dos anos 1900, uma grande parte dos judeus da região emigrou para a região da Palestina.

Foi em Jerusalém, não muitos anos depois, que o "Hava" ganhou sua voz atual.

Segundo o documentário, o responsável pelo formato hoje conhecido da canção foi Abraham Zevi Idelsohn (1882-1938), etnologista que cunhou boa parte das versões em hebraico de canções tradicionais judaicas.

HAVAPOLÊMICA

Há quem discorde da versão. A família de Moshe Nathanson (1899-1981), por exemplo. Ouvidos no documentário, seus descendentes sustentam que é dele a letra de "Hava Nagila". Dá-se neste momento do filme aquilo que Grossman chama de "O Grande Havadebate". Ela ouve estudiosos, ouve a família de Idelsohn e a de Nathanson e... nada. Não há provas definitivas. Ainda que a versão corrente seja de que foi o Idelsohn o verdadeiro pai.

Mas, independentemente do exame de paternidade, o tema se difundiu com extrema rapidez. Nos anos 1920, em Jerusalém, a canção já era conhecida como uma música tradicional.

E, sustenta a dançarina Ayala Goren, que tinha 86 anos à época do filme, foi para acompanhá-la que criou-se a dança chamada de hora, executada em roda, e ainda presente em centenas de milhares de casamentos, mesmo de não judeus.

Foi um deles, por sinal, quem transformou a música em ícone pop. Em 1959, o cantor, e ator afro-americano Harry Belafonte, hoje com 86 anos, gravou o tema num show no Carnegie Hall, em Nova York. "Foi o embaixador do Hava Nagila'", diz.

Qual a versão mais estranha da música? "Toda versão que não tenha sido tocada por uma banda de casamento judaica", brinca Grossman, bem no tom de seu filme.

O acento humorístico do documentário não faz dele uma piada.

"O filme parece engraçado, talvez seja engraçado, mas quando você descasca algumas camadas descobre que há algo de sério nele", opina.


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