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Crítica - Documentário

Filme sobre Ai Weiwei acerta ao conectar artista e sua obra

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

Se a gente não fizer alguma coisa, nada acontece, diz o artista em dado momento de "Ai Weiwei - Sem Perdão", documentário de Alison Klayman em torno de sua arte, de suas ideias, de sua pessoa política.

Weiwei tornou-se uma espécie de celebridade no Ocidente por conta da foto da praça da Paz Celestial com o dedo central em riste. Atitude que dá bem ideia do espírito independente (e desafiador, no caso) de Weiwei diante dos poderes constituídos de seu país.

Não há dúvida de que seu trabalho é impulsionado, ao menos em parte, pelo regime comunista chinês e seu espírito repressivo.

Seria, no entanto, injusto reduzi-lo a isso. Weiwei é um libertário inquieto, e "Sem Perdão" trabalha em grande medida a partir da inquietação do artista chinês.

É um filme em que o objeto é, ao mesmo tempo, o artista e a sua arte, que busca captá-los como um todo.

Uma questão decisiva é, naturalmente, o que é arte? E Weiwei não se esquiva em momento algum de oferecer pistas sobre o que pensa de sua atividade, embora sugira mais do que defina (no que, aliás, é bem tradicionalmente chinês).

Arte é surpreender o mundo, as coisas do mundo. Trata-se, portanto, de estar onde o mundo se deixa apreender pelo lado mais frágil, mais suscetível de ser reformado, isto é, de encontrar novas formas.

OUSADO E INDEPENDENTE

Embora a intervenção de comentadores/admiradores de Weiwei possa parecer por vezes supérflua, convém observar a expressão das pessoas que falam sobre ele (as chinesas, em particular) mais até do que suas palavras: há um certo estupor diante da ousadia e da independência que manifesta. E isso não se restringe ao Estado chinês e seus dirigentes.

Longe disso, cada intervenção de Weiwei afeta, por um lado, o espaço (ele tem gestos muito decididos e grande agilidade num corpo bem pesado) e, por outro, o espírito. Talvez sejam a mesma coisa.

São esse corpo e esse espírito que, logo no início, nos apresentam um gato que sabe abrir portas. Por que, pergunta, entre tantos gatos só um sabe abrir portas?

É uma boa questão a que se segue a observação aguda: gatos só abrem portas, não as fecham nunca.

Não é de gatos que Ai Weiwei estava falando, mas de artistas. Essa bela metáfora, no entanto, nos projeta na virtude essencial do documentário de Klayman: ao mostrar o artista está mostrando o homem e ao mostrar o homem mostra sua arte --tudo vem junto.


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