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Cassandra Wilson vem a SP e ressalta influência brasileira
Cantora apresenta seu repertório que mescla blues, folk e R&B ao jazz
Artista diz que uma das primeiras músicas que aprendeu foi "Garota de Ipanema", e que Brasil a acompanha até hoje
Quando era uma adolescente em Jackson --no Estado norte-americano do Mississippi-- no final dos anos 60, uma das primeiras músicas que a jovem Cassandra Wilson aprendeu no violão foi "Garota de Ipanema", ou melhor,"Girl from Ipanema".
Mas, pensando em uma cidade próxima em vez do bairro carioca, no Mississippi cantavam a letra como "Girl from Itta Bena".
Foi um longo caminho desde aquele momento até Cassandra ser considerada a "melhor cantora da América" pela revista Time, reconhecida como melhor cantora de jazz por vários anos pela revista Downbeat e vencer alguns prêmios Grammy, com duas dezenas de discos lançados ao longo dos últimos 25 anos --mas, durante todo o percurso, o Brasil seguiu com ela.
No país para apresentações de hoje a domingo como atração do festival Jazz na Fábrica, no Sesc Pompeia, a cantora e compositora conversou com a Folha por telefone de Itaíba, em Fortaleza, onde passava alguns dias de folga no começo da semana.
Citando Pixinguinha e Tom Jobim, fez questão de logo comentar a forte relação entre a música de seu país e a do nosso. "Apesar de não ser nascida no Brasil, eu reinvindico totalmente a influência da música brasileira", diz. "Comecei a ouvir samba e bossa nova quando era uma garota, já é algo embedado na cultura dos EUA", diz.
De acordo com ela, são culturas que partem da mesma origem para encontrar seus desenvolvimentos paralelos próprios. "Há muitas similaridades entre a música feita no sul dos EUA e o samba", diz. "É fácil para nós entender e interpretar a música brasileira. Talvez porque seja a mesma população, o mesmo povo que acabou em destinos diferentes, vindo da África. As raízes são as mesmas, mas originou diferentes gêneros com o tempo. Ou as pessoas apenas começaram a usar nomes diferentes."
Com composições próprias, standards e canções pop, fundindo com naturalidade blues, folk, R&B e, claro, jazz e música brasileira, pode-se dizer que Cassandra é a primeira (e ainda a melhor) das cantoras "ecléticas" contemporâneas pré-Norah Jones e Diana Krall.
SEM RECEITA
Em suas apresentações no Brasil esta semana, ela afirma que fará uma seleção de momentos de todo seu trabalho em diferentes projetos.
"Também não sabemos o que vai acontecer quando subirmos no palco", diz. "O público nos inspira a criar música na hora."