Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Acervo tem material para edições inéditas

Arquivo que está no IMS desde 1999 tem mais de 600 itens e inclui a produção de Ana Cristina Cesar desde a infância

Aos 9, ela fazia jornais caseiros, onde já transparecia o interesse político que viria à tona no fim dos anos 1970

DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Embora tenha vivido apenas 31 anos até o fatídico 29 de outubro de 1983, quando se jogou do oitavo andar do edifício em que seus pais moravam, em Copacabana, Ana Cristina Cesar deixou uma produção que nas últimas três décadas rendeu cinco inéditos, nas áreas de poesia, ensaios e correspondência.

Ninguém que tenha tido acesso ao seu acervo --instalado a partir de 1999 no Instituto Moreira Salles, na Gávea, sob cuidados de Manoela Daudt, e hoje aberto a pesquisadores--pode duvidar de que exista material ali para tantas outras novas edições.

É um acervo com mais de 600 itens, entre livros, periódicos e trabalhos produzidos desde a infância. Ela editava em casa, aos nove anos, o jornalzinho "O Mundo", do tamanho de uma caixa de fósforo, no qual ela prometeu por edições a fio, uma crônica nunca enviada por seu pai, Waldo Cezar.

A criação precoce permite reconhecer traços que se destacariam na produção adulta de Ana C., como a atenção ao trabalho de edição, o humor feroz (após muito esperar a crônica do pai, ela deixa duas páginas de "O Mundo" vazias, com um aviso ao final: "Um momento, ele já acorda!") e o interesse político.

Em outra edição caseira, a criança anota: "A política externa está prejudicando o Brasil, pois está comentando demais a sua situação". Já se percebiam ali sinais da jovem que, aos 20 e poucos anos, se engajaria na produção do jornal alternativo "O Beijo".

"O Beijo' era uma crítica de dentro da esquerda a uma esquerda mais ortodoxa, abordagem à qual ela era passionalmente ligada, com interesse em questões comportamentais e de gênero", diz o crítico e poeta Ítalo Moriconi, que pertencia àquela turma.

ENSAIOS

A produção ensaística de Ana C., que inclui "Escritos na Inglaterra" (1988), sobre tradução, e "Escritos no Rio" (1993), com artigos de jornais, e ainda cartas (em "Correspondência Incompleta", de 1999), estão nos planos da Companhia das Letras.

Todo o material foi organizado por Armando Freitas Filho. "Ana e ele eram muito amigos. Quando ela morreu, meus pais acharam que ninguém melhor para saber o que Ana gostaria de publicar", diz o jornalista Flávio Lenz, 58, um dos irmãos da poeta, ao lado de Felipe, 52.

A única edição na qual Armando não esteve envolvido foi "Antigos e Soltos" (2008), organizado por Viviana Bosi. Esta saiu da "pasta rosa", que ficou alguns anos esquecida no armário da poeta.

Armando foi a última pessoa a falar com Ana C., por telefone, em 29 de outubro de 1983. Ela estava deprimida, mas ele, gripado, não pôde ir encontrá-la."Ela teve uma sobrevida maior que a vida em matéria de reconhecimento", ele avalia. Acha bobagem tentativas de buscar na obra dela as razões do suicídio.

É um repúdio que a própria poeta já deixava claro, no texto "Três Cartas a Navarro", publicado em "Antigos e Soltos": "Te deixo meus textos póstumos. Só te peço isto: não permitas que digam que são produtos de uma mente doentia! Posso tolerar tudo menos esse obscurantismo biografílico."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página