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Análise - Livros

Escritor extraía densidade psicológica da simplicidade máxima

LUIZ BRAS ESPECIAL PARA A FOLHA

Meses atrás, o repórter da revista "Vanity Fair" perguntou-lhe, entre outras coisas, como gostaria de morrer. Elmore Leonard não titubeou: "Isso faz alguma diferença? Você está morto!".

Talvez o interlocutor esperasse um comentário mais espirituoso ou filosófico. Entrevistas com escritores são um ótimo momento para se fazer "literatura" sobre a vida, a arte e a morte.

Porém, ao longo de seis décadas de atividade intensa, Elmore Leonard conquistou uma fila infinita de fãs justamente evitando fazer "literatura", no sentido de "belas letras". Preferia, a qualquer alternativa, extrair toda a densidade psicológica apenas da máxima simplicidade. Nisso ele foi fiel a seu mestre, o Ernest Hemingway das descrições brutas e dos diálogos secos.

Elmore Leonard acreditava somente na prosa poeirenta, rústica. Seus romances e contos de faroeste "Fuga de Cinco Sombras", "Hombre" e outros são uma coleção de situações violentas e indivíduos decididos a resolver tudo na queda de braço.

A vida é feroz, igual à morte. A linguagem literária não podia contradizer essa verdade. Sempre que uma frase minimamente retórica, beletrista, intrometia-se em suas narrativas, Elmore Leonard gastava algum tempo espancando, embrutecendo o texto.

Outra característica apaixonante de seus livros é o senso de humor, em geral negro, quase macabro. As trapaças e os homicídios de seus romances policias "" "Tiro Certo", "Cassino Blues" etc. "" devem parte da alta potência ao exagero mórbido, beirando o cômico.

O personagem favorito de Elmore Leonard era Raylan Givens, dos romances "Pronto" e "Cárcere Privado". Raylan, com seu inseparável chapéu de caubói, possui todas as característicaS de um herói de faroeste teletransportado para a literatura de investigação.

Para Ernest Hemingway, um bom ficcionista deve revelar apenas dez por cento ao leitor, deixando os outros noventa por cento submersos. É a famosa teoria do iceberg.

Na obra de Elmore Leonard, os melhores momentos surgem dessa dialética da elipse. É sinal de que o ensinamento do mestre foi levado a sério.


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