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Escritor denuncia xenofobia no Kuwait

'Bamboo Stalk', de Saud Alsanousi, busca constranger conterrâneos em relação a tratamento dado aos estrangeiros

'Tratei da dor que sinto. Meu trabalho não é apresentar a cura, mas mostrar o problema', diz autor

DIOGO BERCITO DE JERUSALÉM

Saud Alsanousi, 32, se sente culpado. Nascido no Kuwait, em que 80% da força de trabalho é composta por imigrantes, esse jovem tem vergonha das condições de vida dos estrangeiros em seu país.

O incômodo virou o livro "Bamboo Stalk", vencedor da edição deste ano do Arabic Booker, prêmio internacional de literatura árabe. Com a divulgação da obra, o autor espera constranger seus conterrâneos para que eles busquem também a sua reparação.

"A criatividade surge da culpa que sentimos por nosso comportamento", diz Alsanousi à Folha. "A dor é a real motivação e também a primeira fonte da escrita."

O protagonista de "Bamboo Stalk" é José Mendoza, filho de um jornalista kuwaiti e de uma empregada doméstica filipina. Após passar a infância fora do país, Mendoza é alvo de preconceito ao retornar, aos 18 anos.

A discriminação é uma grave questão social nos países do Golfo. Estrangeiros são, no Kuwait, metade da população. Segundo a ONU, mais de 600 mil imigrantes são hoje vítimas de trabalho forçado no Oriente Médio.

Alsanousi não espera mudar essa situação por meio da literatura. Mas espera que, exposta a questão, mais kuwaitis fiquem incomodados.

"Eu tratei, em meu livro, da dor que sinto", diz. "Quero que o leitor sinta o mesmo. Meu trabalho não é apresentar a cura, mas mostrar o problema. Cada leitor é livre para buscar o tratamento que for necessário."

IMAGEM

Alsanousi insiste, porém, que a questão dos trabalhadores imigrantes é só uma das facetas da sociedade do Kuwait --um aspecto que espera não definir todo o país.

Segundo o autor, esse assunto não é tabu no país. "Discutimos a imigração em artigos nos jornais, em nossos encontros com amigos", diz. "O que é novo é colocar essas questões de uma maneira literária, o que os faz mais sérios e chocantes."

O estilo da escrita, elogiado pela comissão do prêmio, trabalha com o desafio de retratar a sociedade do Kuwait por uma perspectiva externa. O narrador, em um recurso incomum na tradição literária do país, é um estrangeiro.

"Na história, os bons escritores chegaram ao mundo a partir de suas experiências locais, como o colombiano Gabriel García Márquez", diz o escritor. "Tudo ao meu redor se reflete na minha escrita. As histórias que ouvi da minha avó, as lendas que escutei quando era criança e a experiência das pessoas no meu entorno."


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