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Cena local de musicais, dominada por versões de sucessos da Broadway e por espetáculos cheios de hits, busca compositores de peças inéditas

NELSON DE SÁ ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Ed Motta conta que, quando estava para se mudar para Nova York, mais de uma década atrás, ouviu do também compositor Guinga: "Você tem de conhecer Stephen Sondheim". Guinga se referia ao maior compositor vivo da Broadway.

"O Guinga falou que ia à casa do Chico Buarque e que ele tinha um livro do Sondheim no meio da mesa", diz. "Aí fui atrás. Estranhei, mas depois virou obsessão. Comprei os discos todos, na Colony, ali perto dos teatros. O primeiro foi Side by Side'."

A obsessão continuou quando Motta voltou para o Rio de Janeiro. Comprou a coleção de "um senhor grego com mais de 3 mil discos de Broadway". Começou a compor e se aproximou, há seis anos, de Charles Möeller e Cláudio Botelho, dupla que popularizou os musicais da Broadway no Brasil.

Juntos, os três criaram um espetáculo que arriscou seguir os passos de Chico Buarque nos anos 1960 e 1970, no Rio, com "Roda Viva" e "Ópera do Malandro". "7 - O Musical" buscava retomar a linha histórica do gênero.

Segundo interlocutores (inclusive Möeller & Botelho, que em 2003 estrearam uma montagem da "Ópera"), Chico Buarque vê hoje os musicais como passado. No momento, escreve novo romance. Mas continua sendo a referência dos compositores brasileiros de teatro.

E é generalizada a visão de que o musical nacional requer compositores para se firmar, como há meio século. Precisa deles para fazer frente às franquias americanas.

Levado aos palcos em 2007, "7" acumulou prêmios e está agora sendo transformado pelo trio Möeller-Botelho-Motta em minissérie musical em sete capítulos, produzida por Estevão Ciavatta, o mesmo de "Preamar", na HBO. Mas não foi fácil, diz Botelho.

"O público brasileiro não gosta muito de ouvir o que não conhece. Musicais de hits fazem um desserviço, porque o público, quando ouve canção que não conhece... O 7' foi o espetáculo que mais nos deu vitórias artísticas, mas o que menos deu dinheiro."

Além das versões de espetáculos da Broadway, outro subgênero musical que vem crescendo são as biografias de ídolos pop, com canções de sucesso. "Está uma febre, daqui a pouco até Anitta vira musical", ironiza Botelho.

Ele diz serem raros os que, além de hits, têm desenvolvimento de dramaturgia --como o londrino "Mamma Mia", que "também é jukebox musical', mas tem um script maravilhoso, sem contar a vida de ninguém do Abba".

Os obstáculos não desanimam Botelho. No momento ele cria, pela primeira vez como compositor, o musical que dará sequência a "7", intitulado "Verônica ou 13". "A gente só progride assim. Estou criando letra e música. O texto é do Charles."

Não faltam, propriamente, outros compositores e projetos. O diretor Miguel Falabella, que priorizou Broadway na última década, prepara texto e letras para "Memórias de um Gigolô", a ser composto por Josimar Carneiro. A dupla já trabalhou assim para "Império", há seis anos.

"Foi uma experiência maravilhosa, talvez a melhor coisa que fiz na vida", diz Carneiro. Ele já foi premiado como diretor musical de biografias cheias de hits e não vê problema no subgênero, mas concorda que, como ocorre com as franquias da Broadway, "as pessoas já digerem aquilo com facilidade".

"Com músicas inéditas não é a mesma coisa", acrescenta Carneiro. "Sempre que você trabalha com ineditismo, não é fácil. Mas tenho visto isso acontecendo e tenho visto respostas do público."

CENA CARIOCA

Os musicais nacionais de maior bilheteria têm surgido no Rio de Janeiro.

O gênero já atraiu, por exemplo, Branco Mello, da banda Titãs, que criou com Emerson Villani as melodias de "Jacinta", a partir de letras do diretor Aderbal-Freire Filho e do autor Newton Moreno. Há menções a outros ritmos na trilha, mas é o rock que predomina.

Uma grande particularidade do trabalho de composição para musicais, diz Mello, é o filtro do olhar do personagem. "Estou mais acostumado a compor canções em que o sujeito que está falando sou eu mesmo. Nesse caso, a música muda de tom se o personagem, por exemplo, está apaixonado."

Em São Paulo, apesar da tradição musical menor, o palco manteve nas últimas décadas elo constante com o gênero. José Miguel Wisnik, compositor e ensaísta, criou canções e trilhas inteiras para espetáculos do grupo Oficina, entre outros.

"Eu vejo Zé Celso continuando e até radicalizando a ideia de um teatro movido à música", diz, lembrando Chico e as criações dos anos 60. "Agora, um teatro do tipo Broadway corresponde a outra demanda, maciçamente de entretenimento. É uma indústria", define.

Mesmo sem ser "indústria pesada", como descreve Wisnik, as produções musicais se disseminaram pelo chamado teatro de grupo.

Em duas décadas, Gustavo Kurlat já compôs para musicais de diretores como Eduardo Tolentino, do Tapa, e Roberto Alvim, do Club Noir.

"Compositores, com talento, tem aos montes", diz. "O que falta às vezes é a quebra de preconceito. Um preconceito também de quem vai patrocinar, porque é uma aposta. Em geral tende-se a arriscar pouco", opina Kurlat.

Pedro Paulo Bogossian, que compôs para musicais de diretores como Gabriel Villela e Regina Galdino, lembra que, na verdade, "nosso teatro musical existe desde Artur Azevedo" (1855-1908), ainda que falte "a indústria". E, sim, "compositor tem".


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