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Livros

Peixe fora d'água, César Aira leva sua narrativa delirante à Bienal

Argentino, famoso pelas histórias curtas e sofisticadas, é destaque literário em evento comercial

'As tramas na literatura não precisam funcionar como na realidade. Prefiro as topologias irracionais', diz o autor

RAQUEL COZER COLUNISTA DA FOLHA

O argentino César Aira, 64, tem uma teoria sobre esses romances enormes, de 500, 600 páginas, que dominam as listas de mais vendidos.

Às vezes, avalia, quem não costuma ler se sente obrigado a fazê-lo, por pressão social ou coisa do gênero, então escolhe um livro que dure bastante. Assim, não precisa tão cedo voltar à livraria e escolher outra leitura.

Esse é um deboche característico de Aira, que amanhã, na Bienal do Livro do Rio, estará cercado de autores de livros enormes, enquanto ele mesmo lança uma edição com duas de suas sofisticadas narrativas curtas, "Como me Tornei Freira" e "A Costureira e o Vento" (Rocco).

Aira publicou mais de 60 romances na Argentina, quase todos com algo em torno de cem páginas. E sempre narrativas delirantes, "sem ensinamento, nem informação, nem posturas filosóficas ou políticas", como esclarece. As duas histórias que saem aqui são exemplares disso.

Na primeira, uma menina de seis anos chamada César Aira evoca os resultados catastróficos de uma ida à sorveteria, numa trama que inclui uma iluminada madre anã e a descoberta da escrita a partir de uma inscrição impublicável no banheiro.

Na outra, o vento se apaixona por uma costureira que procura o filho na Patagônia, enquanto, ali perto, um vestido de noiva voa ao encontro de um boneco de neve e nasce um monstro "realmente horrível, como um quadro abstrato de Kandinsky".

RACIONAL E IRRACIONAL

"As histórias na literatura não precisam funcionar como na realidade. Prefiro as topologias irracionais, como os quadros de Neo Rauch, para deixar claro que é só um jogo", afirma o autor, por e-mail (ele diz ter fobia ao telefone, mal que afeta menos gente do que gostaria).

Mas não pense o leitor que esse desvario literário herdado dos surrealistas resulta apenas de um impensado jorro criativo. Há uma lógica intrínseca, baseada na união de elementos que parecem soltos e na escolha das palavras.

"Escrevo lentamente, pensando cada palavra, desenhando cuidadosamente no caderno com minha Mont Blanc, em geral tentando ser o mais correto possível", diz.

Em outros tempos, invejou o estilo "selvagem" de outros autores, de "incorreções que dão sangue e vida ao texto". "É impossível para mim. E creio que a correção fria da prosa convém à minha imaginação delirante. Se o barroquismo das minhas invenções se somasse ao da linguagem, viraria um caos."

Na Bienal, ele participa da mesa "Trânsitos Literários", sobre o contato das culturas brasileira e argentina, com os escritores Paloma Vidal e Joca Reiners Terron (organizador da coleção Otra Língua, pela qual sai o livro de Aira).

É uma das mesas mais literárias desta edição, embora isso não torne o escritor menos peixe fora d'água num evento comercial cheio de autores de livros enormes.

O que o leva a participar? "Sair da toca um pouco", diz. "Viajar, ver gente, falar, praticar idiomas. No fim, sempre aparece algum leitor."


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