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Diretor diz ter sido 'respeitoso' em filme

Clint Eastwood afirma ter evitado sensacionalismo ao tratar da homossexualidade do diretor do FBI em "J. Edgar"

Idas e vindas no tempo ajudam a explicar atitudes de J. Edgar Hoover, que passou 48 anos no cargo

CINDY PEARLMAN
DO “NEW YORK TIMES”

É uma tarde chuvosa de sexta num hotel de Beverly Hills, e Clint Eastwood acaba de dirigir oito horas desde sua casa, em Carmel, Califórnia, para falar com a imprensa sobre "J. Edgar", que estreia em 27 de janeiro no Brasil.

Ainda bonito e viril aos 81 anos de idade, ele se acomoda para a entrevista.

Primeira pergunta: como o envelhecimento o está afetando? "Como?", pergunta Eastwood. "Você pode repetir? Qual foi a pergunta?"

E então ele sorri.

"Eu só estava brincando", diz o diretor, gargalhando. "Escuto muito bem."

"Até agora vem sendo OK", afirma. "Muitas pessoas lamentam envelhecer porque vivemos numa sociedade que reverencia o auge de nossas vidas. Meu auge está sendo agora. Estou melhor em certas coisas, e talvez não esteja me saindo tão bem em outras. Há que aceitar."

DiCaprio já trabalhou com um rol de diretores de primeira linha, como Woody Allen, Martin Scorsese e Ridley Scott. Ele não situa Eastwood abaixo de nenhum destes.

"Fico espantado com que Clint faz diariamente", diz DiCaprio, 37. "Ele não para."

"Acredito que ficar ocupado nos conserva em forma", diz Eastwood. "Mentalmente em forma; e aí provavelmente o lado físico segue."

À medida que envelheceu, Clint Eastwood fez filmes mais e mais ambiciosos. Desde que completou 62 anos, ele já foi indicado a quatro Oscars de direção, tendo ganhado em duas ocasiões.

"J. Edgar" é um épico panorâmico, que começa em 1919 e acompanha a ascensão de Edgar Hoover, o homem mais temido em Washington na maior parte de seu reinado de quase 50 anos no FBI, que foi até sua morte, em 1972.

DiCaprio faz Hoover, e Armie Hammer é o assistente e namorado do diretor do FBI, Clyde Tolson. Naomi Watts representa a leal secretária de Hoover, que continua a cuidar de seus arquivos secretos mesmo após a morte dele.

A história por trás da história envolve a mãe intransigente de Hoover (Judi Dench), que martela na cabeça do filho que é dever dele levar o nome Hoover ao status de grandeza em Washington.

Houve rumores de que o FBI teria pressionado Clint Eastwood a cortar determinadas cenas, mas ele nega.

"Eles não leram o roteiro, mas a filosofia deles foi 'vá em frente e faça o filme que você quiser fazer'. Eu disse: 'Espero que vocês curtam'."

"Vivi os anos de Hoover e, em parte por isso, me interessei por essa história. Eu tinha minhas impressões próprias por ter crescido com Hoover como esta figura heroica nos anos 1930, 1940, 1950. Tudo isso foi antes da era da informação. A gente não sabia muito sobre Hoover, a não ser o que saía nos jornais."

O filme trata da homossexualidade de Hoover -algo que hoje todos sabem, mas que foi profundamente escondido durante a vida dele-, incluindo seu relacionamento com Tolson e os rumores de que, no âmbito privado, ele chegava a vestir roupas de mulher.

Mesmo assim, isso não é mostrado de modo sensacionalista, insiste o diretor. "Quis que fosse respeitoso."

Ele editou o filme de forma não linear, com a narrativa saltando livremente entre diferentes períodos no tempo.

"Achei interessante ir e vir para explicar a atitude de Hoover", diz Eastwood. "Fica óbvio que ele achava que tinha razão em tudo. Mas todo mundo sempre sente isso, mesmo quando está errado."

Eastwood vê Hoover como um homem corrompido pelo poder que ele primeiro cobiçou e depois conquistou.

"Quando alguém passa 48 anos como diretor do FBI, sempre há algo que acontece para corrompê-lo."

A longevidade de Hoover no cargo foi alimentada por seus notórios arquivos secretos, não só sobre criminosos e suspeitos mas também sobre políticos, altos burocratas e até mesmo presidentes. "Ninguém podia afastá-lo do poder", diz Eastwood.

Segundo DiCaprio, os desafios de representar um personagem tão complexo, cobrindo um arco de tempo tão longo, foram facilitados pelo ótimo funcionamento dos sets de Clint Eastwood.

"Clint cria um ambiente em que você pode se concentrar na atuação. Ele deixa o mínimo de pessoas no set. Você logo mergulha na história."

Sobre o set, porém, Eastwood não confirmou uma fama: "Dizem que filmo apenas um take de cada cena", diz ele. "É uma fama maravilhosa, mas difícil de confirmar no set. Faço tantas quantas forem necessárias."

Depois de 15 anos como ator, Eastwood fez sua estreia na direção de longas com "Perversa Paixão" (1971). Em pouco tempo, estava dirigindo a maioria de seus próprios filmes. Sua carreira mudou com seus primeiros Oscars, por "Os Imperdoáveis" (1992), incluindo o de melhor filme.

Ele passou a dirigir mais e deixar a atuação a cargo de outros. Desde "Menina de Ouro" (2004), premiado com Oscars de direção e filme, ele só apareceu na telona uma vez, em "Gran Torino" (2008).

"A verdade é que as pessoas me oferecem papéis, às vezes grandes papéis", diz Eastwood. "Já faz alguns anos que tento ir para atrás da câmera. Mas parece que não consigo ficar só lá."

Tradução de CLARA ALLAIN.

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