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Mostra no CCBB é oportunidade de ler Eastwood nas entrelinhas

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

De ator icônico nos westerns de Sergio Leone e policiais de Don Siegel, em que celebrizou o tipo silencioso, solitário e soturno, a autor admirado por público e crítica com igual intensidade.

Os marcos principais da linha narrativa da carreira de Clint Eastwood já estão estabelecidos -e dificilmente serão mudados. Mas uma mostra como "Clint Eastwood - Clássico e Implacável", que começa na terça, no CCBB de São Paulo, oferece a oportunidade de ler nas entrelinhas.

Maior retrospectiva dedicada a Eastwood no Brasil, com 42 filmes dirigidos e/ou estrelados por ele, a mostra traz clássicos incontestáveis, como "Três Homens em Conflito" (1966), de Leone, "Perseguidor Implacável" (1971), de Siegel, e "Os Imperdoáveis" (1992), de Eastwood.

Embora a chance de rever essas obras-primas no cinema nunca deva ser ignorada, talvez valha mais a pena dar atenção aos filmes que colheram menos elogios.

Ver ou rever os trabalhos que foram olhados com desconfiança pela crítica na época de lançamento e observar que já havia ali um autor em formação, que não poderia ter surgido mais tarde em um passe de mágica.

Começando pelo começo, há "Perversa Paixão" (1971), primeiro longa dirigido por Clint, um suspense em que ele demonstra ter bebido na fonte de John Ford e de Siegel para formar seu estilo: límpido, sem firulas, sempre colocando a câmera onde ela pede para estar.

Depois, "O Estranho Sem Nome" (1973), primeira incursão no western como diretor. Reprisa o pistoleiro misterioso dos filmes de Leone e mostra que herdou o gosto pelo outsider que faz as próprias leis; e, de certa forma, pelo individualismo americano.

Daí em diante, Eastwood reveza-se entre filmes de grande sucesso comercial -"falha" que a crítica demora a perdoar-, projetos com algum prestígio e trabalhos que voam abaixo do radar.

Mesmo depois do reconhecimento crítico, há sempre aqueles filmes que jogam dúvida sobre sua capacidade como autor. Para cada "Josey Wales" (1976), há um "Rota Suicida" (1977). Para "Bird" (1988), um "Rookie" (1990). Para "Os Imperdoáveis", um "Cowboys do Espaço" (2000).

Mas esses filmes "minúsculos" ajudaram, tanto quanto os maiúsculos, a construir as características centrais de sua obra: a de um homem em crise com a perda de valores de um novo em transformação, a de um cineasta clássico entre os modernos.

"Clint Eastwood - Clássico e Implacável" poderá mostrar que esse monumento do cinema não foi erigido apenas com pilastras, mas também com inúmeras e fundamentais pedras menores.

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