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Bienal de Arquitetura condena os carros

Do Minhocão ao Centro Cultural São Paulo, mostra se espalha pela cidade para denunciar a crise da mobilidade

Organizada no calor dos protestos de junho, exposição reflete novo urbanismo pautado por demandas populares

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Minhocão, fim da tarde. Lá fora, um mar de carros enguiça a alguns metros da janela do apartamento colado à via elevada no centro de São Paulo. "Tudo para, mas às vezes tem umas arrancadas bruscas", diz Guilherme Wisnik, olhando para o trânsito. "Não dá mais para enxugar gelo. Precisamos afrontar o privilégio dos carros na cidade."

Wisnik não é político, nem quer um cargo na gestão do trânsito paulistano. Mas está à frente da Bienal de Arquitetura de São Paulo, que neste sábado chega à sua décima edição quatro meses depois que as maiores manifestações públicas tomaram as ruas do país desde o regime militar.

Sua mostra, de certa forma, ouviu a voz das ruas, embora já estivesse sendo planejada para ser uma espécie de manifesto pela mobilidade urbana, deixando o oásis do parque Ibirapuera e se alastrando por endereços como esse apartamento no Minhocão, o Masp, o Museu da Casa Brasileira e outros pontos perto das estações de metrô.

Reforçando essa ideia, o núcleo central da exposição é o Centro Cultural São Paulo, com entradas por duas paradas da malha subterrânea da cidade. Lá dentro, estão carros velhos apodrecendo em plena mostra, atrapalhando a circulação numa metáfora nada sutil da rotina das ruas travadas da cidade.

"Nossa ideia é ocupar várias escalas, de um apartamento a um prédio grande e público", conta Wisnik.

Enquanto o apartamento no Minhocão tem uma mostra sobre a transformação de uma ferrovia elevada em parque, o High Line, em Nova York, o espaço da rua Vergueiro narra a construção do elevado, da marginal Tietê e de um túnel expresso nunca concluído sob a avenida Paulista --tentativas fracassadas de desafogar o trânsito.

No mesmo endereço, outras pequenas mostras registram o declínio de Detroit, berço da indústria automotiva, contabilizam o número de edifícios-garagem em São Paulo e mostram projetos de artistas que enterraram Cadillacs nas areias do deserto.

"Não é uma condenação dos carros", diz Wisnik. "Mas eles vieram associados à liberdade e acabaram mudando o paradigma de cidade."

Tanto que os cartazes do Movimento Passe Livre e a parafernália de protestos do Occupy Wall Street, reunidos na exposição, denunciam a violência dessas mudanças e as dores do crescimento das megalópoles mundo afora.

"Isso mostra que o espaço público também é um lugar de tensão e conflito", diz Ana Luiza Nobre, outra curadora da Bienal. "E revela como o urbanismo vive uma crise."

Outra parte da mostra fala do "espetáculo do crescimento" anunciado pelo ex-presidente Lula em cidades hipertrofiadas do Norte e Nordeste. Mas pode ser, como aponta Wisnik, mais um caso de "crescimento do espetáculo".


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