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Cinemateca celebra 60 anos do 1º filme infantil brasileiro

"O Saci", que teve Nelson Pereira dos Santos como assistente, será lembrado em sessões especiais

Baseado em obra de Monteiro Lobato, filme foi rodado no interior de São Paulo e criou próprio mito

ANA PAULA SOUSA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há 60 anos, Rodolfo Nanni, 87, e Nelson Pereira dos Santos, 83, partiam para Ribeirão Bonito (SP), para fazer o primeiro filme infantil brasileiro: "O Saci", baseado em Monteiro Lobato, que será exibido hoje, amanhã e sábado na Cinemateca Brasileira.

Santos, que se tornaria figura-chave do cinema novo, era um simples assistente de câmera; Nanni, que acabava de retornar ao país após uma temporada de estudos na França, estreava na direção.

Parte do dinheiro da produção foi levantada pelo irmão do diretor, que vendeu "títulos" do longa-metragem para os amigos.

Para escolher o elenco, eles colocaram um anúncio no jornal e laçaram gente em todos os cantos: o papel da tia Anastácia coube à cozinheira de Lobato; o da Cuca, ao bêbado narigudo da cidade.

Para criar os "efeitos especiais" que a história pedia, inventaram geringonças mil, como o tubo de hidrogênio, emprestado de um hospital, que criou um redemoinho, ou a meia-calça que cobria as pernas do Saci.

Deve ter sido difícil, não? "Imagina! Era tamanha a empolgação que não enxergávamos nada como dificuldade", diz Nanni, enquanto folheia o roteiro de folhas amarelas que estará exposto na Cinemateca, ao lado de fotos do filme.

Passados 60 anos, Nanni não sabe sequer dizer quanto tempo duraram as filmagens. "Foi tanta confusão...", ri.

O menino que fazia o papel do Pedrinho, por exemplo, quebrou o braço jogando futebol. Resultado: a equipe ficou um mês parada esperando o garoto tirar o gesso.

Rodado em 1951, o longa só seria lançado em 1954, durante as comemorações do 4º Centenário de São Paulo.

Quando chegou às salas de cinema, fez enorme sucesso. Da acolhida do público aos elogios feitos por gente como Glauber Rocha, o filme, que chegou a ser adquirido pelo governo francês -mas, ironia do destino, ardeu no incêndio que consumiu a Cinemateca Francesa, em 1959- foi construindo seu mito.

"O lado chato disso é que virei 'o cara que fez O Saci'. Não queria ser lembrado só por isso, mas minha carreira enveredou por outros caminhos", diz Nanni, que deu aulas na Faap por três decadas.

"O lado bonito é ver que, até hoje, todo mundo adora esse filme, que é tão brasileiro e tão simples."

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