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Crítica artes plásticas

Mostra de Jac Leirner apresenta artista com integridade conceitual

Trabalho se apropria de elementos cotidianos e cria paralelos com a história da arte com humor e ironia

FABIO CYPRIANO
CRÍTICO DA FOLHA

Costuma-se apontar os anos 1980 como o momento do retorno da pintura, quando o mercado da arte teria conseguido se reerguer após um período intenso de uma produção experimental, de difícil inserção comercial.

Mostras como a retrospectiva da artista Jac Leirner, em cartaz na Estação Pinacoteca, apontam, decisivamente, para a incorreção dessa leitura.

Afinal, não é a pintura daquela época que melhor sobreviveu às três décadas transcorridas, mas obras de artistas que seguiram experimentais, como Leonilson ou Leirner, como visto na mostra.

Com curadoria de Moacir dos Anjos, a exposição apresenta cerca de 60 obras, num conjunto que aponta para coesa integridade conceitual.

Mas -e esse é o trunfo da mostra- reunidas nas três amplas salas expositivas, com um efeito de acumulação, muitas vezes sobrepostas, essas obras ganham um caráter festivo, algo que se perde quando os trabalhos são exibidos isoladamente.

O procedimento criativo de Leirner é conhecido: ela se apropria de elementos cotidianos, como sacolas plásticas, maços de cigarro, cartões de visita ou adesivos, e os reúne em séries, como pequenas coleções. No entanto, é na aglutinação desses objetos que a artista cria paralelos com a história da arte, aproveitando-se de um duplo fetiche: o de colecionar e o de citar movimentos artísticos, especialmente o construtivismo.

Essa operação, contudo, é feita com grande ironia e humor, pois a poesia em sua obra está justamente nos materiais e em suas características. Um bom exemplo é "O Livro (dos Cem)", com dezenas de pequenos textos coletados em notas de dinheiro e que, inscritos na parede, se transformam num poema concreto de autoria coletiva.

E então percebe-se como a artista trabalha com um procedimento fotográfico, levando para o museu objetos que não foram feitos para a perenidade, como o dinheiro, os cartões, os adesivos ou as sacolas. Construídos como objetos transitórios, eles acabam congelados, revelando momentos que, graças às fabulações da artista, tornam-se permanentes.

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