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Crítica - Correspondência

Cartas de Alceu Amoroso Lima retratam terror do AI-5

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

Rio, 24 de janeiro de 1969: "O que se vê é o mais cínico materialismo reacionário e capitalista. Só pensam em termos de Riqueza. A liberdade que lhes importa é apenas a dos Bons Negócios. E ainda criticam o marxismo por desdenhar dos valores espirituais'!!! Fico tão enjoado de tanta desfaçatez e tão revoltado de não poder falar, ou pelo menos, escrever a respeito. Pois falar, falo, e até demais!".

As palavras são de Alceu Amoroso Lima em carta para a filha Madre Maria Teresa. A ditadura baixara o AI-5 havia pouco mais de um mês. O escritor e líder católico desabafava: os militares que haviam tomado o poder eram "salteadores" e "patetas" que faziam parte de uma "quadrilha".

Mais. O regime tinha introduzido "o terror como elemento capital de nossa evolução política! O terror e a tortura! Plena barbárie!", escreveu em dezembro de 1969.

A correspondência com a filha está reunida em "Diário de um Ano de Trevas", volume organizado por Frei Betto e Alceu Amoroso Lima Filho e editado pelo Instituto Moreira Salles. As cartas, redigidas entre janeiro de 1969 e fevereiro de 1970, tratam de política, de religião, de literatura. Expõem impressões sobre o noticiário e o cotidiano.

Filho de empresário do setor têxtil, Amoroso Lima (1893-1983) estudou direito e foi crítico literário. Adotou o pseudônimo de Tristão de Ataíde. Seu nome está ligado ao movimento modernista, à criação da PUC do Rio e da Universidade Santa Úrsula. Foi um dos fundadores do Movimento Democrata Cristão no Brasil e pertenceu à Academia Brasileira de Letras.

Escritos sem freios e em tom de conversa, os textos do livro são crônicas daquele período sombrio da história.

As cartas ajudam a entender uma época e são uma gostosa aula de história e filosofia. Mostram também um sujeito em mutação que extravasa sua turbulência interior.


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