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Aos 71, Leilah Assumpção está de volta à dramaturgia

Autora cria peça sobre sua experiência com infecção no rosto e no cérebro

'Dias de Felicidade', escrita após a escolha 'entre ficar cega ou colocar titânio' na face, fala sobre resiliência

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

"É a primeira foto que eu deixo, depois de tudo. Falei: agora vou mostrar a cara do jeito que ficou'. Não deu para ficar melhor [ri], mas, também, estou com 71 anos. Não há necessidade de oh, coitada, olha só'. Eu me maquiei."

É Leilah Assumpção, de "Fala Baixo, Senão Eu Grito" (1969) e "Intimidade Indecente" (2001), peças sobre a mulher que estão na história do teatro brasileiro, traduzidas e montadas mundo afora. Ela retorna depois de uma infecção no rosto, há oito anos, seguida por outra no cérebro.

Escreveu uma peça sobre o que passou, "Dias de Felicidade", título irônico, porque "saiu um humor negro, uma comédia". Na introdução ao texto, ela explica ter escrito "para exorcizar".

A peça já está em produção, com previsão de estreia no primeiro trimestre do ano que vem, em São Paulo, com direção de Regina Galdino, a mesma de "Intimidade".

Consuelo de Castro, colega de geração na dramaturgia, leu e diz que "Leilah transformou a dor da experiência em arte e boa arte, sem autopiedade, com aquela ironia que sempre teve".

Leilah, sobre a primeira infecção: "Ia ficar cega, então tive que escolher. Era aqui [nos olhos, de lado a lado]. Está na peça, o pior momento é o da escolha: entre ficar cega ou colocar titânio".

O metal alterou sua face e, hoje, dá a palavra mais repetida por ela, sobre si mesma e a peça: resiliência. Explica que "vem do aço, da física: você funde, ele muda e depois tem a capacidade de voltar". É como ela se vê, com titânio no lugar dos ossos.

A resiliente enfrentou nova prova. "Depois tive infecção de herpes dentro do cérebro, fiquei muito mal." Já não andava, mas fez e ainda faz fisioterapia. "Eu sobrevivi e me recuperei. Uso sapato ortopédico, mas tudo bem."

A aparência e o andar remetem ao que Leilah fazia antes de explodir como autora, em 1969. "Era manequim de alta costura, do Dener!" Saía da passarela direto para o Oficina, para estudar com o ator russo Eugênio Kusnet (1898-1975) e namorar Zé Celso.

"Como fui manequim, sempre dominei meus ângulos", diz. "Sempre fui fotogênica, porque tirava no ângulo. Mas me aconteceu isso, e fiquei sem ângulo nenhum."

Mas "Dias de Felicidade" não é sobre aparências. Fala do companheirismo de um casal: seu primeiro título era "Conforto à Beira do Abismo". E do envelhecimento: o segundo, também descartado, era "Estou Louca para Entrar na Idade do Foda-se".

"Minha geração vai reinventar a velhice", diz Leilah, que viveu dois anos como hippie em Londres e dá uma pista do que é a velhice para aquela geração dos anos 60: "Eu acho que o velho tem o direito, se quiser e puder, de não fazer nada. É difícil".

Ela justifica com uma história. "Liguei para uma conhecida da minha idade e ela: Levantei, fui ao shopping'. Sabe aquele desespero de provar que fez? E você?' Nada.' Ela ficou perplexa, porque eu não paro de escrever."


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