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Reedição evidencia faceta cerebral da obra de Valéry

Augusto de Campos analisa a simbologia da serpente na obra do autor francês

Poeta concretista assina traduções, textos críticos e projeto gráfico do volume 'A Serpente e o Pensar'

MARCIO AQUILES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Ser poeta, não. Poder sê-lo." O aforismo do escritor francês Paul Valéry (1871-1945) vale também para a obra de seu tradutor, o multiartista Augusto de Campos.

O poeta brasileiro é célebre por uma produção que consegue unir, tanto na obra poética própria quanto nas traduções de autores estrangeiros, o diálogo entre a tradição do cânone literário e as inovações formais e temáticas sofisticadas.

A reedição revista da obra de Campos "Paul Valéry: A Serpente e o Pensar" (ed. Ficções) inclui a tradução de "Esboço de uma Serpente" e alguns fragmentos extraídos dos "Cahiers" (cadernos) do autor francês.

As máximas dos "Cahiers", que Augusto define como "lampejos fascinantes do pensamento fragmentário", foram anotadas durante 50 anos por Valéry.

"Os 'Cahiers' abrangem os mais diversos campos culturais, da poesia à matemática; contêm sua verve aforismática, provocações do pensamento e apontam para uma nova estilística de prosa não convencional, ainda hoje atualíssima", afirma Augusto.

Na introdução, o concretista mostra como a imagem da serpente percorre de modo obsessivo a obra de Valéry.

O emblema do réptil aparece como projeção da sensualidade, revestido de simbologia bíblica ou ainda como o ícone do pensar.

O projeto gráfico do livro é do próprio Augusto. "A capa é uma antiga imagem da serpente que morde a própria cauda, circundada pela palavra 'serpen(t)', um anagrama que permite duas leituras inversas: 'penser', e 'serpente' -ideograma que sintetiza a temática do livro. Um poema em si mesmo."

Augusto de Campos é um dos principais nomes da arte brasileira contemporânea, mas considera que muitos jovens autores não manifestam interesse pela poesia audiovisual que pratica.

"Preferem o discurso recortado entre as linhas. A eles aconselho: 'Esqueçam os Campos Brothers. Vão ler Décio Pignatari e 'prosapoesia''. Enquanto não o fizerem, vão continuar patinando entre a prosa e a poesia confessionais, atualizadas pelo ecletismo pós-moderno."

Neste ano, Augusto foi homenageado na Bienal de Lyon, no festival de artes Europalia e na Balada Literária.

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