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Nova obra de Isabel Allende vai além do romance histórico

Viciados em drogas, três enteados da escritora chilena são a inspiração para 'O Caderno de Maya', que sai agora no país

Apesar da mudança de gênero, livro repisa terrenos conhecidos da autora, como o folclore e a política do Chile

MARCIO AQUILES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O novo romance da escritora chilena Isabel Allende, "O Caderno de Maya" (Bertrand Brasil), chega amanhã às livrarias brasileiras.

Apesar de não se tratar de um romance histórico, gênero que consagrou a escritora em títulos como "A Casa dos Espíritos" e "A Ilha sob o Mar", a obra traz algumas marcas de Allende, como a abordagem de questões políticas e folclóricas do Chile.

A narrativa em primeira pessoa dá conta do conturbado período de um ano na vida de Maya, a protagonista de 19 anos que se refugia em uma ilha do Chile após se envolver com drogas, crime e prostituição nos EUA.

Depois de perder o avô, sua principal referência, Maya passa a vender e consumir maconha, ecstasy e LSD. Altas doses de álcool completam o coquetel.

"A escrita foi bastante dolorosa, já que três filhos de meu marido são ex-viciados. O mais velho passou metade da vida em hospitais e prisões; outra morreu com 28 anos; e o mais novo está finalmente limpo, depois de uma década tomando heroína", afirma Allende, em entrevista por e-mail à Folha.

Depois de fugir de uma clínica de recuperação, Maya amarga infortúnios. Pega carona rumo a Las Vegas com um caminhoneiro, que a sequestra e a violenta.

A autora utiliza com propriedade o recurso de alternar a narração de Maya entre o presente -no Chile, já sóbria, levando uma vida simples- e as memórias da época em que foi parar nas ruas, mendigando e roubando.

Os capítulos do livro são divididos de acordo com as estações do ano.

"Maya chega à ilha no verão, passa o outono e o inverno em busca de sua alma, para, finalmente, curar as suas feridas e se reconciliar com o seu passado na primavera", descreve Allende.

FOLCLORE E MISTICISMO

As lendas folclóricas, os mitos e um certo grau de misticismo permeiam a produção de Allende como tradições incutidas sobretudo nos hábitos dos personagens.

Quando algum fenômeno sobrenatural é descrito, ele é mais um produto da sensibilidade de algum personagem do que uma realidade física, objetiva. Assim se dá com o falecido avô de Maya, que às vezes "surge" para ajudá-la.

Outra particularidade do romance é a trama policial.

"Geralmente, estou mais interessada em desenvolver os personagens do que a ação, mas acho que mesclei bem ambos neste livro", afirma a chilena, sem modéstia.

CHILE

Os traumas políticos estão mais uma vez incrustados na alma dos personagens. Acontecimentos relativos à derrubada do governo de Salvador Allende (1908-73), seu tio, e à posterior ditadura a que esteve submetido o Chile irrompem na narrativa como parte da história de alguns tipos.

"Em todos os meus livros, você achará temas políticos, feminismo e uma obsessão pela liberdade. Mas não pretendo deixar uma mensagem; meus livros não são panfletos políticos. São minhas ideias, experiências e crenças que determinam as ações dos meus personagens."

O CADERNO DE MAYA

AUTORA Isabel Allende
EDITORA Bertrand Brasil
TRADUÇÃO Ernani Ssó
QUANTO R$ 49 (434 págs.)

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