Mutarelli busca silêncio em volta às HQs

O escritor William Burroughs se perde em uma pescaria e acaba conhecendo um ET. Enquanto isso, o dramaturgo Mário Bortolotto e o ator Paulo de Tharso vivem em um barco e criam porcos.

O enredo acima, à primeira vista pouco verossímil, compõe o livro "Quando Meu Pai se Encontrou com o ET Fazia um Dia Quente", de Lourenço Mutarelli (Companhia das Letras). "Mas eu nunca vi ET", adverte o autor. "E nem meu pai", completa, rindo.

A obra marca a volta do autor às histórias em quadrinhos após cinco anos escrevendo romances -e seu primeiro livro do gênero após deixar a editora Devir, referência em HQs nos anos 90.

Apesar de o novo livro ter personagens à imagem e semelhança de amigos seus, Mutarelli diz que o enredo não possui traços autobiográficos, característica que permeia outras obras suas.

"Para não dizer que não tem nada de autobiográfico, pintei algumas fotos da minha infância."

Outra inspiração do universo infantil resultou no formato do livro: 27,5 cm de largura por 21 de altura. "Quis que ele tivesse tamanho de livro de criança, para valorizar os desenhos", diz.

Cada quadro de "Quando Meu Pai se Encontrou com o ET Fazia um Dia Quente" ocupa uma página inteira. "Eu queria muitas partes sem texto", diz Mutarelli. Das 91 páginas ilustradas, 39 não possuem nenhum texto. "Eu desejava silêncio."

Por suas histórias em quadrinhos mais cultuadas terem somente desenhos em preto e branco, a maioria deles feitos com tinta nanquim, Lourenço Mutarelli buscou explorar outras técnicas de pintura e voltou a usar a cor.

"Para mim, o mais interessante nesse livro foi trabalhar com a tinta acrílica", diz.

Segundo o autor, essa era uma ferramenta de ilustração que ele ainda não dominava.