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Fotógrafo cria ilusões em preto e branco

Ainda fiel às câmeras analógicas, o espanhol Chema Madoz explica como subverte a realidade em seu trabalho

"Quase todas imagens estão baseadas em algum engano", diz ele, que busca influência na escultura e no grafismo

RODOLFO LUCENA
COLUNISTA DA FOLHA

Nesta época em que reinam a foto digital e as imagens manipuladas em computador, o fotógrafo espanhol Chema Madoz, 53, se mantém fiel à velha câmera analógica e ao preto e branco.

Mas não abdica de tentar enganar o olhar: as fotos que produz têm como palco um mundo mágico, em que um garfo é a sombra de uma colher ou uma escada pula a janela (ou um espelho?) e se equilibra no espaço.

Nesta entrevista, ele fala um pouco sobre seu processo de trabalho.

Folha - Por que continuar usando filme e câmera analógica hoje?

Chema Madoz - A fotografia digital estabelece uma relação muito particular com a realidade. Com ela tudo é possível, tudo é manejável.

Para ela, a realidade é o ponto de partida; para a analógica, a realidade é o ponto de chegada.

O que me interessa é fraturar o conceito de realidade, mas em seu próprio território, com as limitações que ela nos impõe.

Por que escolheu o preto e branco?

Meu trabalho gira em torno da ideia de estabelecer vínculos, nexos entre elementos diferentes. O preto e branco facilita isso, pois tudo se reduz a volume, jogo de luz e sombra e texturas. É como se levássemos tudo a um mesmo terreno em que todos os objetos fossem feitos do mesmo material.

Seu trabalho parece tentar subverter a realidade, enganar o olhar. Por que escolheu esse caminho?

Procurei encontrar uma forma própria de contar as coisas, em que o engano é uma maneira de colocar em dúvida as formas. A fotografia pode ser usada de diferentes maneiras. Construir as imagens é apenas uma das possibilidades.

Sempre me considerei um fotógrafo, ainda que meu trabalho tenha influências de diversas áreas. Algumas imagens poderiam ser instalações, outras estão mais próximas da escultura, outras se aproximam do mundo do grafismo.

Como o senhor cria as imagens ou cenas que fotografa?

Meu processo de trabalho é bem simples. Começo com um desenho para ver se a imagem que tenho na cabeça tem possibilidades de funcionar. Se acho que vale a pena, então passo a buscar os objetos de que preciso e trabalho com eles até conseguir a imagem desejada. Só então entra em cena a fotografia.

Tento fazer uma contraposição: uma aparência formal, clássica, que logo é subvertida. Quase todas as imagens estão baseadas em algum engano, mas um engano muito particular, pois está sempre à vista do espectador.

A manipulação é sempre evidente e clara. De alguma forma, mostro o caminho que segui para chegar a ela, à ilusão. Estou reivindicando a dúvida sobre o que vemos.

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