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Crítica/Artes Plásticas

'Caos e Efeito' é divisor de águas na história das mostras em SP

Ao romper fórmulas, Paulo Herkenhoff se destaca entre cinco curadores que enfocam os dilemas de sua função

FABIO CYPRIANO
CRÍTICO DA FOLHA

A exposição "Caos e Efeito", no Itaú Cultural, é um divisor de águas na história das mostras da cidade.

Concebida por cinco curadores, que segundo a instituição são os cinco com maior projeção na primeira década do século 21 no país, ela revela os dilemas do que significa expor obras de arte.

Quatro deles, Fernando Cocchiarale, Lauro Cavalcanti, Moacir dos Anjos e Tadeu Chiarelli, organizaram seus módulos em formatos convencionais: conjuntos de obras que ilustram ideias, mas que poderiam estar reunidas em livro, já que a exposição não demanda vivência.

Moacir dos Anjos, por exemplo, em sua seção "As Ruas e as Bobagens" parte da série "Espaços Imantados" (1968), de Lygia Pape, que registra concentrações de pessoas em locais públicos, como uma roda de capoeira ou a banca de um camelô.

São imagens que apontam como ações cotidianas são capazes de transformar seu entorno. A partir daí, o curador reúne trabalhos que podem se relacionar com tal efeito, mas que são tão contidos e domesticados no espaço expositivo que contradizem a própria ideia de Pape.

É justamente esse dilema -de ideias que não acontecem no espaço expositivo porque são apenas ilustrações delas- que permeia grande parte do trabalho curatorial atual.

Mostras de arte contemporânea se transformaram em tediosas sequências de obras que apenas validam conceitos. Por isso, serviços educativos dos museus ganham relevância: o discurso se sobrepõe ao trabalho artístico.

RUPTURA

No entanto, tudo isso não estaria tão explícito se Paulo Herkenhoff, em seu módulo "Contrapensamento Selvagem", não tivesse rompido de maneira tão radical com essa fórmula fácil.

Sua mostra é o próprio caos. Nela, torna-se difícil identificar a autoria de muitos trabalhos e até mesmo o que pode ser uma obra de arte. Mas, afinal, não tem sido essa uma questão essencial da arte desde os anos 1960, acabar com os limites entre arte e vida?

Em parte isso ocorre graças ao trabalho do artista carioca radicado em Recife Fernando Perez, responsável pela maior parte dos objetos que envolvem a exposição e a transformam num conjunto orgânico, uma experiência que só pode ser de fato vivenciada no espaço.

Transgressor, polêmico, só com artistas de fora do eixo Rio-São Paulo, Herkenhoff cria um oásis frente ao marasmo burocrático que a arte contemporânea atravessa.

CAOS E EFEITO

QUANDO de ter. a sex., das 9h às 20h, sáb. e dom., das 11h às 20h; até 23/12
ONDE Itaú Cultural (av. Paulista, 149; tel. 0/xx/11/2168-1777)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre; piso 2S, 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo

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