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Editores criticam uso político de boletim da Câmara do Livro
Divulgação de artigo sobre 'desacertos' do governo gerou reações
Um artigo enviado pelo e-mail institucional da Câmara Brasileira do Livro (CBL), com críticas ao governo federal e sem relação com o mercado de livros, levou editores a questionarem o uso político da entidade, que representa mais de 650 editores, livreiros e distribuidores do país.
No texto, divulgado no dia 16, Hubert Alqueres, vice-presidente de Comunicação da CBL, diz ser "visível o cansaço dos brasileiros com os péssimos serviços públicos, com o crescimento econômico pífio e um modelo de governabilidade baseado em patrimonialismo e fisiologismo".
Alqueres destaca ainda "os enormes desacertos econômicos cometidos pelo governo Dilma". Sobre a sucessão, diz que "hoje há uma concorrência desigual. Apenas a presidente está em campanha".
O texto foi publicado originalmente em 1º/1 na seção "Opinião" da Folha, com a informação de que artigos assinados não traduzem a opinião do jornal. O boletim da CBL não fazia essa ressalva.
Na semana passada, o editor Raul Wassermann, ex-presidente da CBL, enviou à instituição uma "veemente crítica ao uso da entidade para fins políticos e/ou pessoais".
"Em todas as décadas de existência da entidade [...], criticou-se e elogiou-se os governos e autoridades naquilo que fizeram de bom ou não ao mercado do livro. Nunca saindo da defesa do livro para críticas genéricas", escreveu o diretor da Summus.
À Folha Wassermann disse que pode "até concordar com o que Alqueres diz, mas não na mídia em que disse. A CBL não pode tomar partido".
Sobre a acusação de uso da entidade para "fins políticos e/ou pessoais", o editor citou eventuais ambições eleitorais de Alqueres, que foi presidente da Imprensa Oficial do Estado, secretário-adjunto de Educação e secretário de Comunicação em gestões do PSDB no governo de SP.
Angel Bojadsen, editor da Estação Liberdade, criticou, em e-mail à instituição, o teor "politicamente enviesado em comunicação oficial da CBL".
À Folha Alqueres informou que o artigo trata de sua opinião pessoal e que, em viagem ao exterior, não participou da decisão que levou à reprodução do texto no boletim. Negou ainda a intenção de disputar eleições futuras.
A presidente da CBL, Karine Pansa, afirmou que o texto foi divulgado "como forma de valorizar a presença dos dirigentes de nossa entidade na grande mídia". O boletim, porém, não informava que o artigo saíra antes na Folha.
Ontem, em novo boletim, a CBL afirmou ter cometido um "equívoco" ao deixar de mencionar a publicação pela Folha e que um texto de dirigente na mídia "agrega valor" às causas da instituição.
Sobre a falta de relação com a área de atuação da CBL, a assessoria de imprensa da entidade alegou que o boletim é aberto a qualquer editor que queira divulgar um artigo, ligado ou não ao mercado dos livros, e afirmou "condenar a censura".