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Crítica música erudita
Aos 22 anos, pianista russo exibe maturidade inexplicável
SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHAO concurso de piano Fryderyk Chopin, na Polônia, é realizado a cada cinco anos. Na última edição, em 2010 --que teve Nelson Freire e Martha Argerich na banca--, o russo que ficou em terceiro lugar chamou mais atenção do que a primeira colocada.
Dizem que foi ali que o prestigioso selo Deutsche Grammophon se interessou por Daniil Trifonov. Na época ele tinha 19 anos (hoje tem 22). Há cerca de um ano, ele assinou com a gravadora.
Gravado ao vivo no Carnegie Hall, em Nova York, seu primeiro álbum pela Deutsche reúne a "Sonata nº 2" de Scriabin (1872-1915), a "Sonata" em si menor de Liszt (1811-1886) e os 24 "Prelúdios" op. 28 de Chopin (1810-1849).
Há algo especial no pianista, comparável, talvez, ao impacto de ouvir Evgeny Kissin nos anos 1990. Como naquele caso, há em Trifonov mãos impecáveis e uma maturidade inexplicável para a idade.
Mas a isso Trifonov adiciona um intelecto poderoso, que coordena escolhas de repertório e opções interpretativas. Em Scriabin, os planos dinâmicos são construídos em camadas finas, como tecidos que se interpenetram e dobram em movimento.
Colocar a "Sonata" de Liszt --obra magna com 30 minutos, sem interrupção-- no coração do programa é tomar o ponto culminante dos grandes pianistas como partida. Sua compreensão é ao mesmo tempo tátil e auditiva. Não há clichê. A sonata soa múltipla em sua unidade de motivos cíclicos recorrentes.
Nos prelúdios em todas as tonalidades maiores e menores de Chopin, o pianista faz o inverso: transforma a variedade em unidade --unidade de som, de intenção, de toque. Em novembro, a Osesp o trouxe para um recital: quem viu experimentou um pouco do futuro no presente.
SCRIABIN, LISZT, CHOPIN
ARTISTA Daniil Trifonov
GRAVADORA Deutsche Grammophon
QUANTO R$ 37
AVALIAÇÃO ótimo