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O fim do mundinho?

Estilista Ronaldo Fraga sai da SPFW, decreta a morte da moda e causa burburinho no meio fashion brasileiro

DOLORES OROSCO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Tenho convicção de que a moda acabou." A declaração dada pelo estilista Ronaldo Fraga, seguida do anúncio de que sua grife estará fora da próxima São Paulo Fashion Week, surpreendeu até o mais blasé dos críticos da primeira fila de desfile.

Desde terça-feira, quando a notícia foi publicada na coluna Mônica Bergamo, na Folha, o criador mineiro tem sido alvo de reações acaloradas por parte de quem acompanha sua trajetória nas passarelas há 17 anos.

"Teve quem me fizesse sentir afagado ao lamentar minha ausência. Mas também fui agredido. Algumas pessoas ficaram ofendidas por eu dizer que a moda acabou", conta Ronaldo.

"Mas reafirmo: como nós a conhecemos, a moda acabou mesmo. Deixou de fazer sentido essa busca pela cor da estação, pelo comprimento da vez", continua.

Paulo Borges, o criador da SPFW, diz que sua postura sempre foi "não emitir opiniões nem julgamentos sobre decisões tomadas por estilistas". Mas discorda da declaração de Ronaldo.

"Claro que a moda não acabou e nunca vai acabar. Ela está intimamente ligada ao desejo", diz.

Veteranos da cena fashion arriscam interpretações para a tese apocalíptica de Fraga.

"Acho que o que o Ronaldo quis dizer é que a moda autoral acaba porque você não pode sustentá-la sem base financeira forte. O varejo não se sustenta de coisas originais", analisa a consultora de moda Costanza Pascolato.

"E ele sempre foi alternativo no pensamento, valorizando as raízes brasileiras. Mas nenhuma sociedade nova, cheia de novos ricos como a nossa, quer saber de raízes."

Oskar Metsavaht, estilista da grife Osklen, concorda em parte com as opiniões de Ronaldo Fraga.

"Estamos vivendo um momento em que não faz sentido ficarmos bitolados aos catálogos e ao exercício clássico da moda, que é o desfile", opina. "É preciso buscar novas plataformas."

Já o estilista Jum Nakao, que se despediu da SPFW em 2004, quando apresentou uma coleção de roupas de papel que foram rasgadas na passarela, vê "sinergia" entre a declaração de Ronaldo e seu manifesto.

"Minha ideia foi mostrar que, mesmo se for de papel, a moda pode deixar uma mensagem", compara Jum.

"Se a moda acabou, tomara que seja na forma descartável como é feita hoje."

PLAYGROUND

Ronaldo rejeita o alinhamento com o manifesto.

"Sempre digo ao Jum que ele promoveu um momento maravilhoso, mas foi um suicídio fashion. Ele rompeu com o sistema, coisa que não estou fazendo", garante.

"Não existe um protesto contra desfile, contra a SPFW. Só quero deixar de seguir a mesma bula de moda feita em um mundo caduco, que está ruindo."

Mesmo fora da temporada do inverno 2012 da SPFW -marcada para 19 de janeiro-, Ronaldo prepara uma coleção inspirada no livro "Caderno de Roupas, Memórias e Croquis".

"Será uma seleção dos meus desenhos, desde o início da minha carreira. Mas nada é baseado em coleções passadas. É tudo novo."

Livro e coleção serão apresentados em diversas cidades, segundo o estilista.

"Vou alugar casarões por 15 dias, montando uma exposição, lançando o livro e exibindo as roupas. Vai ser uma discussão de moda com as comunidades locais. Será um playground Ronaldo Fraga."

Sobre sua volta à SPFW no segundo semestre, na temporada do verão 2013, após edição ausente, Ronaldo titubeia. "Hum... Hum... Eu volto, vai. Até segunda ordem. Hoje eu falo que volto, mas já disse que sou livre, hein?".

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