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Único romance de Chaplin sai na Europa

'Footlights', que serviu de base para o filme 'Luzes da Ribalta', reflete tristeza do artista diante de declínio nos EUA

Escrito em 1948 e até agora inédito, livro mostra frustrações do ator e diretor, que era investigado pelo FBI

ALISON FLOOD DO "GUARDIAN"

O único livro de ficção escrito por Charles Chaplin, um sombrio e nostálgico romance curto que serviu de origem ao filme "Luzes da Ribalta" e ficou inédito por mais de 60 anos, está sendo publicado pela primeira vez.

"Footlights" conta a mesma história de "Luzes da Ribalta" ("Limelight", 1952), seu filme de despedida dos Estados Unidos --a de um palhaço envelhecido e alcoólatra, Calvero, que salva uma bailarina do suicídio.

O filme, no qual Chaplin interpretou Calvero, e Claire Bloom, a bailarina, foi o último que Chaplin realizou nos EUA antes de ser expulso do país em função de sua suposta simpatia pelo comunismo.

O romance, escrito em 1948, foi agora montado por seu biógrafo, David Robinson, com base em anotações a mão e trechos datilografados. Ele está sendo publicado, em inglês, pela Cineteca di Bologna --um instituto italiano que se ocupa da restauração de filmes.

Cecilia Cenciarelli, codiretora do projeto, disse que o romance "traz sombras". "É a história de um comediante que perdeu seu público, escrita por um comediante que àquela altura havia perdido seu público e era descrito pela imprensa como ex-comediante', ou cineasta que um dia fez sucesso'", afirma.

"É espantoso que um homem como esse, que foi à escola por apenas seis meses em sua vida, tenha conseguido se transformar em escritor", diz Cenciarelli.

"Sei que sou engraçado", diz Calvero no romance, "mas os empresários acham que cheguei ao fim do caminho... que fiquei no passado. Meu Deus! Seria tão maravilhoso fazê-los engolir suas palavras. É isso que odeio na velhice --o desprezo e a indiferença que as pessoas mostram com você. Eles acham que sou inútil... Por isso seria maravilhoso conseguir um retorno! Mas algo sensacional! Para sacudi-los de rir, como eu fazia no passado... Ouvir aquele rugido cada vez mais forte... As ondas de risos me atingindo, me erguendo no ar... Esse é o melhor dos tônicos! Você gostaria de rir com eles, mas se segura e só ri por dentro... Meu Deus! Não existe nada parecido! Por mais que eu odeie aqueles malditos... Eu adoro ouvi-los rir!"

Chaplin estava enfrentando um período difícil nos EUA quando escreveu o romance. "Ele era um alvo importante para J. Edgar Hoover [o diretor do Serviço Federal de Investigações (FBI)], e essa campanha fez muitos americanos se voltarem contra Chaplin. Isso foi um choque para ele, que havia sido o homem mais amado do mundo durante 30 anos", afirma Robinson, cujas anotações estão na edição.

"Ele jamais pretendeu publicar o livro", diz o biógrafo. "Era algo absolutamente privado, que escreveu para consumo pessoal."

A infância de Chaplin no sul de Londres pode ser vista, escreve Robinson, na aversão de um personagem infantil por parques --"aqueles monótonos e solitários trechos de verde, e as pessoas que os ocupavam serviam de cemitério vivo aos desesperados e destituídos".

O romance também mostra "o deleite do autodidata quanto a palavras belas ou estranhas, que o levava a manter um dicionário sempre ao seu alcance e a aprender uma palavra nova a cada dia: chocalhar, selenita, eflorescente, fanfarronando e --até o fim da vida sua palavra favorita-- inefável".

"Quando ele aprendia uma palavra, gostava de usá-la, mesmo que não fosse exatamente a correta para a situação", diz Robinson.

"Mesmo assim ele é um escritor maravilhoso. Nos filmes, ele trabalhava e trabalhava até acertar, e no livro é a mesma coisa. É uma boa leitura. Estranha, mas boa."

FOOTLIGHTS
AUTOR Charles Chaplin
EDITORA Cineteca di Bologna
QUANTO € 34 (cerca de R$ 110, mais entrega; à venda no site cinestore.cinetecadibologna.it)


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