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Desilusão política geracional marca romance de gaúcho

Paulo Scott lança 'Habitante Irreal', sobre jovens da década de 1980 hoje instalados no comando do país

'Não faço uma crítica apenas aos amigos e ex-colegas. Faço uma crítica a mim mesmo', diz autor

Guilherme Brendler
DE SÃO PAULO

Durante seis anos, Paulo Scott, 45, arquitetou um manifesto contra os resultados produzidos por sua geração no poder. O "libelo", concebido em forma de romance, se chama "Habitante Irreal" e é seu primeiro livro pelo selo Alfaguara.

Gaúcho radicado no Rio há dois anos e meio, Scott aborda a sua desilusão com a passagem dos contemporâneos pela política. Hoje, são homens e mulheres entre os 40 e os 50 anos que, na década de 80, eram jovens contestadores, idealistas e ousados. Para Scott, não foram capazes de mudar as coisas. "A minha geração falhou as outras."

Nesse romance de contestação, não é à toa que um dos protagonistas seja homônimo do autor. "Não faço uma crítica apenas aos meus amigos e ex-colegas que hoje são pessoas importantes no governo, no Judiciário e na grande imprensa. Faço uma crítica a mim mesmo", afirma.

Paulo -o do livro- tem 21 anos e é militante do PT. Cansado da vida política, encontra uma índia de 14 anos que vive com a família à beira de uma estrada e, subitamente, se encanta por ela.

O ano é 1989. O rapaz reencontra na menina a esperança e a razão de viver. Ela se torna um desafio, alguém que ele busca ajudar por conta própria, à revelia do Estado.

"Minha indignação com a invisibilidade a que são relegados os índios se tornou outro grande motivo para escrever o livro", conta. A relação entre o partido do jovem (que foi também o de Scott até a metade dos anos 90) e as políticas indígenas no Brasil está presente no romance.

Scott deixa "muito claro" que a história do protagonista não é a dele. "Não sou tão ingênuo nem tão corajoso quanto o Paulo do livro. Ele é uma criança que brinca de mudar o mundo. Na política, só restaram os que tiveram estômago e coragem. Os mais puros caíram fora."

FAMA JURÍDICA

Depois da militância política no PT e no Diretório Central de Estudantes da PUC-RS (do qual foi presidente em 1986, enquanto estudava direito), Scott fez mestrado e lecionou direito econômico durante dez anos na universidade em que se graduou.

Após a publicação de um certo livro, Scott ganhou projeção no meio literário. No meio literário da área jurídica, bem entendido.

"O Planejamento e o Papel do Estado como Agente Normalizador da Atividade Econômica do Setor Privado", sua dissertação de mestrado, tornou-se referência logo de sua publicação. Um dos avaliadores do trabalho de Scott foi o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Eros Grau.

"Foi um estudo importante na época, pioneiro, obra de referência por anos. Mas hoje já está bastante desatualizado", diz Scott.

Apaixonado por poesia, o escritor viu seu nome começar a circular para além das letras jurídicas ao publicar, em 2003, a coletânea de contos "Ainda Orangotangos" pela extinta editora Livros do Mal. Três anos depois, a Bertrand Brasil obteve os direitos da obra e a relançou.

Em 2008, o longa de 81 minutos "Ainda Orangotangos" estreou nos cinemas com um virtuosismo que chamou a atenção da crítica: era todo filmado em um único plano-sequência, sem cortes.

E mais um trabalho de Scott deve migrar para a sala escura em breve. A produtora RT Features adquiriu há pouco os direitos de adaptação do romance "Voláteis".

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