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Mônica Bergamo

Plínio comenta

Metralhadora giratória na internet, Plínio de Arruda Sampaio aconselha o pré-candidato do PSOL a presidente, Randolfe Rodrigues, a fazer como ele na eleição de 2010: partir para ofensas morais para chamar a atenção

"É a favor da legalização da maconha?", "É vascaíno?", "Pretende se candidatar a algum cargo?". As perguntas pulam na página do Twitter. Plínio de Arruda Sampaio, 84, pousa as mãos sobre seu iMac da Apple (e só não responde às perguntas pornográficas): é, sim, a favor de descriminalizar a erva. Torce pelo São Paulo. E não, não vai disputar as eleições.

"Já cumpri o que eu tinha que cumprir", explica ao repórter Joelmir Tavares. "E seria muito ruim ir para Brasília e deixar a Marietta sozinha aqui em São Paulo", diz o ex-deputado federal, citando a companheira há 60 anos, com quem teve seis filhos.

Candidato do PSOL derrotado nas eleições para presidente de 2010 -recebeu 886 mil votos, 0,87% do total-, Plínio é o único dos quatro postulantes mais votados conformado em ficar fora da urna eletrônica em outubro. Dilma Rousseff (PT) concorre à reeleição, José Serra (PSDB) indica disposição para disputar algum cargo e Marina Silva (PSB) pode ser vice de Eduardo Campos (PSB).

Enquanto mantém diálogo com os 81 mil seguidores do perfil @pliniodearruda -onde ganhou popularidade por se oferecer, quase todo dia, para responder a "perguntas sobre política e religião"-, corre por fora como cabo eleitoral do pré-candidato de seu partido a presidente, Randolfe Rodrigues, 41.

Ao senador do Amapá ("novinho, mas craque pra burro"), Plínio aconselha: é preciso partir para o ataque, até com "ofensas morais". "Se não for agressivo no debate em um partido pequeno, os eleitores esquecem você."

Mas o arsenal retórico de Plínio, se fosse requisitado agora, estaria pronto para ser disparado. Contra Dilma ("cortou benefícios previdenciários, entregou a Petrobras"), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos ("representam interesses que os impedem de falar as coisas importantes, e aí têm que fazer promessinha") e Marina ("uma fofoqueira habilidosa, ultra-ambiciosa; se o Eduardo bobear, ela sai candidata").

Afirma que a adversária que mais atacou em 2010 foi Marina. E poupou Serra, de quem diz ser amigo. "Objetivamente, ele é um governante melhor do que a Dilma e os demais. Ele é meio reacionário e violento, mas competente. Pessoalmente, é uma simpatia, um cara simples."

Diz que o PSOL não tem chance de vencer agora. Acredita na reeleição de Dilma.

Defensor da gratuidade no transporte, Plínio tenta convencer o partido a buscar o apoio do MPL (Movimento Passe Livre), que teria "tudo a ver" com a legenda. As manifestações de rua foram positivas, para ele, por criar "um fato novo no processo eleitoral".

Mas discorda da tática do "black bloc" ("sem propósito") e defende o deputado estadual do Rio Marcelo Freixo (PSOL), sobre quem recaiu a suspeita de ligação com os acusados da morte do cinegrafista Santiago Andrade. "Não sei qual a intenção dos que fizeram essas ilações. Estão totalmente enganados."

Fundador do PT, alega que deixou o partido em 2005 porque, no poder, ele fazia as vontades da "burguesia". Diz que o julgamento do mensalão foi "íntegro". Mas ficou "triste" ao ver ex-companheiros presos, como José Dirceu ("ele roubou mesmo") e José Genoino ("vivia com dificuldade, pegou para o partido").

O prefeito Fernando Haddad (PT-SP) "é um incompetente". Alexandre Padilha, pré-candidato petista ao governo do Estado, "é um desconhecido, um poste". Lula "é uma figura admirável, sujeito malandrão, ótimo de coração", mas "um desastre" como presidente. Eduardo Suplicy (PT-SP) "é o melhor senador em atividade, um comunista 'sui generis'". O ministro Joaquim Barbosa, do STF, é "extraordinário".

E mais: o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), tido como homofóbico, "é um fanático". Geraldo Alckmin (PSDB-SP) "é um governador meio reaça, mas um homem correto", de quem o escândalo do cartel do metrô "não vai passar nem perto" e por quem põe "a mão no fogo".

Assim como nega contradição em ser de esquerda e elogiar políticos da direita, diz administrar bem a devoção ao marxismo e à Igreja Católica. "O Marx é um instrumento para analisar a realidade. Mas, quando extrapola, aí já não me interessa. Sou cristão, acredito em Deus." Lamenta que os filhos não tenham apego à religião.

No Twitter, mesmo com dificuldade para dominar a tecnologia, une duas paixões. "Faço um trabalho de formação política e de apostolado."

Foge de brigas. Diz só responder a questões sérias e sobre os assuntos de que entende. Não dá bola para piadas. "Estou respondendo a perguntas sobre roupas pretas e cortes de cabelo" e "sobre política e requeijão" são exemplos de brincadeiras de usuários que imitam Plínio.

No Facebook, não faz tanto sucesso com a própria página. Tem 9.000 seguidores. A sátira Plínio Comenta, na mesma rede, tem 66 mil. Nela são postados pitacos sobre temas do momento. São frases curtas escritas em fotos do ex-deputado, na forma de "memes" (mensagens que se espalham em larga escala). O autor é um professor de 25 anos filiado ao PSOL.

O partido vai usar muito a internet neste ano, segundo o veterano. "O [Barack] Obama ganhou por isso. A Dilma está ligada. Até voltou ao Twitter", diz o entusiasta das redes sociais. Quando quer desanuviar do frenético ambiente digital, ele pega papel e lápis. E começa a desenhar. "É uma forma de abstração, sem pretensão artística", diz Plínio, em sua versão analógica.


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