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Crítica - Música erudita
'Il Trovatore' evidencia bom elenco e evolução da Sinfônica Municipal
Ópera de Giuseppe Verdi em cartaz em São Paulo exibe cenários engenhosos e tem excelente direção cênica
A arte de criar personagens atinge um ponto alto em "Il Trovatore", de Giuseppe Verdi (1813-1901). Para além do texto, é a invenção sonora que dá vida a Manrico, Leonora, Conde de Luna e Azucena.
Sábado, na estreia da montagem do Theatro Municipal, um elenco de alto nível ofereceu matizes individuais aos homens e mulheres de Verdi.
O barítono Alberto Gazale deu ao Conde de Luna a melancolia de quem está cego pelo amor. E o ótimo tenor Stuart Neill sustenta a consciência enfeitiçada de Manrico.
A Leonora da soprano Susanna Branchini solicita a orquestra a seus pés. John Neschling topou os riscos que o acompanhamento exige, mostrou que a Sinfônica Municipal está em evolução.
A mezzo-soprano Marianne Cornetti deu densidade shakespeariana à cigana Azucena --turbada pelo fogo que queimou sua mãe e no qual ela mesma atirou seu filho.
"Il Trovatore" começa com elementos teatrais e musicais complexos e, talvez por isso, o primeiro ato --apesar da excelente direção cênica de Andrea De Rosa-- não teve a sincronia entre naipes orquestrais, solistas e coro conquistada ao longo da noite.
Em fase de transição, o Coro Lírico (agora preparado por Bruno Facio) também evoluiu no segundo ato e teve os melhores momentos nas duas seções finais. Engenhosos, os cenários de Sergio Tramonti fizeram bom uso da verticalidade do palco.
Tudo concorreu para o início do quarto ato: madeiras primorosas, interação total entre soprano e maestro na ária "D'Amor Sull'ali Rosee", timbre perfeito do coro longínquo no "Miserere".
É uma história contada de viés, com os sentidos transbordando das frases musicais.