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Massa de corpos dança em palco-ringue

Coreografia do piauiense Marcelo Evelin, com bailarinos nus pintados de preto, mobiliza reações do público

Criação de inspiração política é influenciada por livro do escritor búlgaro Elias Canetti e pelas artes plásticas

IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO

O coreógrafo piauiense Marcelo Evelin, 51, define suas criações como obras políticas e diretas.

"A dança saiu do lugar de mostrar o belo e o tecnicamente eficiente e se colocou na posição de abrir uma rachadura, um lugar de discussão", diz Evelin à Folha.

É esse tipo de lugar que ele tenta criar no espetáculo "De Repente Fica Tudo Preto de Gente", apresentado hoje e amanhã na programação da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo.

O espaço onde coloca sua dança e o público é um ringue --literalmente. Dentro dele, um amontoado de corpos nus pintados de preto se movimenta contra e a favor do público.

Uma das inspirações para a criação da coreografia é o livro "Massa e Poder", do escritor búlgaro Elias Canetti (1905-1994).

Na obra, Canetti analisa as reações humanas em situações de poder, paranoia, medo e agressividade.

"No espetáculo, discuto como as individualidades são dissolvidas em função da potência da massa. Mas também uso a ideia de que os corpos pressionados uns aos outros ajudam a vencer o medo do outro", diz Evelin.

Para criar a sua massa, o coreógrafo juntou corpos de Teresina, Ipatinga, São Paulo, Amsterdã e Kyoto. Ele conta que os artistas só se conheceram no primeiro ensaio, há cerca de dois anos.

"Foi um risco, poderia não ter dado certo. Mas hoje é realmente uma massa, não só coreográfica, eles criaram uma proximidade na vida."

Já os espectadores são mobilizados pela movimentação dos bailarinos, aproximando-se e afastando-se de acordo com a ocupação do espaço pelos artistas. Como a iluminação está nas bordas do palco, isso faz com que o público mude a luz do espetáculo.

Quando as pessoas se concentram sobre os corpos unidos dos bailarinos, fica tudo escuro mesmo. Quando os movimentos dos intérpretes ficam mais violentos e o público recua, a luz fica difusa pelo palco.

O impacto visual explicita a influência das artes plásticas no trabalho de Evelin.

"A maneira de se comunicar hoje está muito influenciada pelas artes visuais. Minha dança já foi muito ligada ao teatro, mas caminho cada vez mais para uma coisa plástica", diz o coreógrafo.

Sem deixar a política de lado. Seu próximo projeto, "Batucada", é bastante influenciado pelas manifestações do ano passado no Brasil e movimentos como o Occupy. Ele vai levar 50 bailarinos de vários países do mundo às ruas de Bruxelas em 24 de maio, um dia antes das eleições para o Parlamento Europeu.


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