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Cravo Júnior une o sagrado e o profano

Obra e carreira do artista baiano são analisadas em livro feito por seu filho, morto no ano passado, e seus netos

Publicação, que faz ampla documentação da obra do autor de 88 anos, traz um curta-metragem encartado

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Exu é um ser da encruzilhada, espécie de Mercúrio que transita entre os deuses.

Mário Cravo Júnior se compara à entidade. Ele é o escultor que passou anos estudando as figuras sacras de Aleijadinho em Minas Gerais e depois fez estátuas de Cristo dos escombros do Mercado Modelo, arrasado num incêndio nos anos 50 e reconstruído.

Suas esculturas se espalham por Salvador, indo das formas modernas da fonte em frente ao mercado restaurado a uma enorme cruz metálica debruçada sobre a cidade perto do Pelourinho.

Entre figuras e abstrações, Cravo Júnior fez de sua obra um amálgama entre sagrado e profano, dejetos rearranjados para criar novas formas e materiais mais e menos nobres -da madeira à sucata- que se articulam em busca de harmonias possíveis.

Um livro lançado neste ano revê a trajetória de Cravo Júnior com esse foco pluralista, retratando o artista como "exu iluminado", alguém que soube transitar entre correntes estéticas para virar um escultor icônico de sua terra.

"Tem artista que trabalha com mármore de Carrara por 60 anos; eu preciso renovar meu relacionamento com os materiais", diz Cravo Júnior à Folha em seu ateliê atulhado de restos de metal e madeira em Salvador. "Aqui é como se eu tivesse mais de cem homens à minha mão."

Mesmo aos 88, Cravo Júnior continua trabalhando numa oficina dentro do parque onde está quase todo seu acervo na capital baiana. Seus assistentes vivem trazendo retalhos que entram nas composições, de engrenagens enormes a bicicletas entortadas em acidentes.

"Uso meu estado anímico para fazer as coisas", diz o artista. "Desenho direto em cima da chapa de aço para não perder esse toque, essa relação visceral. Gosto de lutar, fazer amor, tomar pau."

Todo esse embate do artista com a obra está documentado nas páginas do livro. Muitas das fotografias, aliás, são do filho Mário Cravo Neto, morto no ano passado.

Cravo Júnior diz que também anda pensando no fim da vida. "Estou chegando ao ciclo final, tenho consciência disso", afirma ele. "Mas ainda tenho vontade de encontrar o que não encontrei. A melhor sensação do mundo é pegar um papel em branco para começar a desenhar."

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da Odebrecht.

EXU ILUMINADO

AUTOR Christian Cravo, Kadi Cravo e Mário Cravo Neto
EDITORA Versal Editores
QUANTO R$ 240 (480 págs.)

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