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Miguel x Marisa

Duas décadas depois de seu primeiro encontro no palco, eles voltam a atuar juntos no teatro, em 'O Que o Mordomo Viu'; aqui, a dupla cômica da TV fala da sua química de 'casal véio' e das próximas parcerias

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

Miguel Falabella conta que Marisa Orth passava o tempo todo "culpada" nos ensaios de "Algemas do Ódio", comédia popular que parodiava a gravação de uma novela, duas décadas atrás.

Foi o primeiro encontro de ambos, no palco. A própria atriz lembra a história, rindo. Ela se sentia traindo o drama, gênero que valorizava mais naquele início de carreira.

A sua resistência nos ensaios durou até o diretor e protagonista perder a paciência: "Você quer que eu instale uma canaleta para nevar quando você entra em cena, para você poder se sentir num filme de Bergman?".

Marisa diz que, na verdade, "a culpa não acabou até hoje. Mas aprendi a gostar e percebi que sou boa de comédia mesmo. Essa aceitação demorou, e o Miguel teve muito a ver com ela".

Passados 23 anos, depois de terem levado sua dupla cômica para duas séries de TV, "Sai de Baixo" por seis anos e "Toma Lá, Dá Cá" por três, ela e Miguel voltam agora a atuar juntos no teatro.

"O Que o Mordomo Viu", do inglês Joe Orton, estreia na próxima sexta em São Paulo, no teatro Procópio Ferreira --o mesmo onde era gravada "Sai de Baixo", em que faziam Magda e Caco.

HUMOR NEGRO

"O Miguel me ajudou a suingar, a jogar fora, foi o grande aprendizado", diz ela. "Porque eu sou paulista, sou engraçada, mas suingar é carioca. Não carioca zona sul, não. É do subúrbio."

"Eu sou muito carioca e ela, às vezes, parece a Nair Bello", diz ele. "Mas deu certo. A gente tem química, definitivamente. Vira uma brincadeira, uma pelada."

Na dupla, enquanto ele improvisa, ela é quem segue o texto, "CDF", como diz.

"Eu me agarro qual Ulisses ao mastro! Quanto mais ele avacalha, mais eu fico no papel. Parece casal véio'."

E ele avacalha muito. "O Miguel é um autor no palco. A gente não podia ter nenhum acontecimento mais exótico, na turnê, que ele colocava tudo em cena."

Foi essa química que permitiu à atriz assumir o papel às pressas, quando Arlete Salles deixou a produção no fim de janeiro, perto da estreia, para tratar de um câncer.

"A Marisa pegou em seis dias", diz Miguel, enfatizando que ela foi, "em primeiro lugar, amiga", porque o salvou de um prejuízo financeiro --com estreia e turnê já contratadas no Nordeste.

A atriz não conhecia Orton. "Agora estou enlouquecida por ele. É pré-punk. As raízes do punk inglês estão ali. É agressivo e superinteligente."

Em ritmo de vaudeville, "de entra-e-sai", a trama de "O Que o Mordomo Viu" envolve o casal e outros três personagens em episódios de crescente escândalo, até chegar ao estupro e ao incesto.

"Ele fica louco demais", diz Miguel, lembrando que foi um texto que Orton, já célebre pelo humor negro, escreveu para rebater as críticas de que não dominava a "carpintaria" --os elementos básicos de dramaturgia.

Aos 34 anos, meses depois de escrever a farsa, em 1967, Orton foi morto pelo companheiro. Sua história é o tema de "Prick Up Your Ears" (1987), filme de Stephen Frears, com Gary Oldman.

A dupla não deve parar as parcerias. Já falou de se unir num musical da Broadway, "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos", gênero que ambos vêm priorizando --ele com "Alô, Dolly" e outros, ela com "A Família Addams".

Mas Miguel, 57, anota que tem muitas atrizes com as quais ele ainda quer trabalhar. E ela se diz satisfeita por ser uma das "eleitas do Miguel", que "tem um casting', nunca escolhe uma".

TEM ALGUÉM AÍ?

O que está mais perto, para a dupla, é um monólogo que ele escreve para ela. Miguel revela título ("Tsunami"), cenografia (ela sentada num galho de árvore) e a primeira frase ("Tem alguém aí?").

E diz que é "sobre as mulheres da família de Marisa". Já ela conta que ele está sempre relutando, dizendo "já escrevi", depois "joguei fora" e "vou mandar cinco páginas".

Em seus caminhos separados, os dois continuam voltados para musicais. Ele prepara "Memórias de um Gigolô", a partir do romance de Marcos Rey, projeto que persegue há muitos anos.

Ela prepara uma nova versão de seu espetáculo de cabaré, intitulada "Romance, Volume 3 - Agora Vai", e uma temporada com 12 episódios de um programa musical para o Canal Brasil, na TV paga.

O nome é "Almanaque Musical, com Marisa Orth". Deve receber seus colegas de "Addams" Daniel Boaventura e Laura Lobo, além de músicos como Roger, João Gordo e Jair Rodrigues.


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