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Cineastas registram caçada a traficante

'The Legend of Shorty' é resultado de meses de busca por El Chapo, chefe de cartel mexicano foragido desde 2001

Documentário passou por mudanças porque criminoso foi preso a poucos dias da entrega da obra para festival

RODRIGO SALEM COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

O mexicano Joaquín "Chapo" Guzmán, chefe do cartel de Sinaloa e um dos narcotraficantes mais procurados do mundo, estava foragido há 13 anos. O timing de sua prisão em fevereiro, no entanto, não poderia ter sido pior para o cineasta britânico Angus MacQueen e o jornalista peruano Guillermo Galdós.

A dupla estava a três dias do prazo final para entregar o documentário "The Legend of Shorty" (a lenda do baixinho, ou "chapo" em espanhol, apelido de Guzmán) ao festival SXSW (South By Southwest), em Austin, nos EUA. O filme com a caçada ao criminoso estrearia no evento.

Quando surpreendentemente uma operação da marinha mexicana com informações da DEA (agência americana de combate às drogas) levou à prisão de El Chapo, no norte do México.

"A primeira coisa que fiz foi soltar um palavrão", relata Angus MacQueen, angustiado com as mudanças pelas quais o filme passaria por causa da prisão do criminoso.

"Quando me acalmei, vi que, na verdade, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Nos deu um sentimento de conclusão, algo que não tínhamos antes." O filme ganhou 15 minutos de cenas.

Seria injusto realmente apontar a prisão do traficante como um fator negativo para o lançamento de "The Legend of Shorty", exibido na última terça no SXSW. Não há estreia prevista no Brasil.

O documentário sobrevive à própria missão --não cumprida-- de encontrar o sujeito que as autoridades mexicanas diziam viver em cavernas, escondido e com medo, como Osama Bin Laden.

Em poucos meses, a dupla registra plantações de maconha e ópio, entrevista chefes que lidavam diretamente com El Chapo e encontra até a mãe do bandido, que vê o filho como um perseguido político.

O México enfrenta há oito anos uma guerra contra o crime organizado que já causou mais de 60 mil mortes.

Há três grandes momentos no documentário. O primeiro é quando MacQueen e Galdós partem em busca do mausoléu do filho de Guzmán.

A dupla foi avisada de que a ex-mulher de Guzmán enviou homens em sua direção. "Não podíamos correr para a polícia local, porque o nível de corrupção vai até ela, então fomos direto do cemitério para o aeroporto."

O segundo é uma sequência que caberia num longa dos irmãos Coen: os cineastas pegam carona em um avião vagabundo pilotado por um sujeito bonachão cuja estadia na reabilitação foi paga pelo próprio cartel, a fim de não perder seu transporte pelas montanhas do norte.

O terceiro é quando os dois são convidados por homens de Guzmán para o desejado encontro em La Tuna, cidade natal do narcotraficante.

"As autoridades passaram 13 anos procurando El Chapo e nós levamos alguns meses", diz MacQueen. Paranoico, El Chapo nunca chegou a consumar a reunião com a dupla.

ZORRO

Os cineastas ganharam a confiança dos membros do cartel de Sinaloa por meio de cartas em que explicavam o propósito do filme.

"Éramos respeitosos, falávamos que gostaríamos de mostrar o lado dele da história", explica o britânico, que já dirigiu no Brasil o documentário sobre drogas "Cocaína: Léo e Zé" (2004).

Apesar de mostrar atrocidades ligadas ao narcotraficante que entrou na lista dos mais poderosos da revista "Forbes", em 2009, o longa o compara ao anti-herói Zorro.

Essa visão é defendida por camponeses pobres da região do cartel, que o veem como um benfeitor. "A intenção não era transformá-lo num herói. 90% do filme mostra suas atrocidades, mas queria passar a ideia de um mascarado em fuga", justifica Galdós.


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