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Em baixa, Damien Hirst mira emergentes

Artista britânico dribla saturação de suas obras em países desenvolvidos com vendas e mostras no Brasil e no Qatar

Valores estratosféricos de suas peças caíram, em média, 30% nas casas de leilões, desde retrospectiva em 2012

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Quando o artista britânico Damien Hirst chegou ao auge da fama e também ao topo do mercado global, criou uma de suas obras mais icônicas e controversas. Era um crânio humano coberto com quase 9.000 diamantes, vendido depois por R$ 200 milhões.

Mas o que talvez Hirst não imaginasse é que essa joia da morte fosse também se tornar um símbolo da derrocada dos valores superlativos atingidos por sua obra, sinalizando o início de um declínio.

Desde sua retrospectiva na Tate Modern, em Londres, há dois anos, os valores estratosféricos de suas peças sofreram uma queda de em média 30% nas casas de leilões.

Hirst, 48, com uma fortuna acumulada de quase R$ 820 milhões, é sem dúvida o artista plástico mais rico do mundo. E isso se deve a uma série de sacadas mais ou menos geniais desde quando despontou nos anos 1990 como um dos nomes do grupo Young British Artists, ou jovens artistas britânicos.

Tudo começou há dez anos, quando Hirst fechou seu famoso restaurante londrino The Pharmacy e faturou R$ 43 milhões leiloando seus objetos, de taças de martíni a uma de suas instalações que imitam prateleiras de farmácia com drogas e pílulas.

Quatro anos mais tarde, em 2008, no início da crise econômica detonada pela falência do banco Lehman Brothers, Hirst subverteu todas as regras do mercado de arte ao levar as obras direto de seu ateliê-fábrica em Londres para um leilão da Sotheby's.

Numa tacada só --ele jogava sinuca enquanto compradores davam seus lances na casa de leilões--, Hirst vendeu mais de 200 de suas obras por R$ 467 milhões.

Não demorou muito até o próximo truque. Há dois anos, Hirst mandou suas "Spot Paintings", pinturas de bolinhas coloridas, para os 11 endereços da galeria Gagosian ao redor do mundo, de Los Angeles a Hong Kong.

Essas peças, em grande parte feitas por assistentes, começaram a ser vendidas por cerca de R$ 25 mil e já foram arrematadas R$ 7 milhões.

Seus tubarões, vacas e bezerros flutuando em tanques de formol também chegaram a cifras exorbitantes, como os R$ 43 milhões pagos pela família real do Qatar por um de seus bezerros naquele leilão-performance na Sotheby's.

Desde então, com um mercado estagnado nos países desenvolvidos, Hirst vem mirando os emergentes para emplacar suas peças --de Doha, onde fez uma grande retrospectiva no ano passado, a São Paulo, onde suas obras são sucesso de vendas desde que a galeria White Cube abriu suas portas na cidade.

DAMIEN PAZ E AMOR

Esse deslocamento geográfico também vem a reboque de um reposicionamento marqueteiro. Hirst parou de se drogar e agora tenta estabelecer uma imagem de grande filantropo, tendo doado quase R$ 8 milhões a uma instituição que ajuda crianças carentes no Reino Unido.

"Há um certo desespero em achar que o dinheiro mancha e envenena tudo", disse Hirst em uma entrevista recente ao jornal britânico "The Guardian". "Mas dinheiro é uma coisa tão complexa quanto o amor. E, como artista, acho importante lidar com isso."

"Tem colecionadores novos que compraram suas peças e já venderam", analisa Jones Bergamin, da Bolsa de Arte, a maior casa de leilões no Brasil. "Mas o mercado nos Estados Unidos e na Europa não responde mais ao volume de obras em oferta. Ele está em queda e terá de se acostumar com outro nível."

Segundo Bergamin, os países desenvolvidos passam por "um esgotamento de público, de paredes para expor e local para estocar" as obras de Hirst, enquanto Ásia, Oriente Médio e Brasil estão ávidos para comprar. Sua ideia, e a de seus galeristas, é sair de cena na Europa para adentrar lugares menos saturados.

"Desde que comecei a ganhar dinheiro, pararam de me chamar de enfant terrible'", diz Hirst. "Eu me sinto mais mainstream' agora do que um forasteiro na arte."

Mas essa condição não impede suas estripulias. Em Doha, para sua mostra encerrada há dois meses, Hirst foi recebido como uma espécie de Michael Jackson da arte. No Brasil, Hirst também deve ter uma mostra individual na virada deste ano para o próximo na filial paulistana da galeria White Cube.


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