Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica - Comédia

'O que o Mordomo Viu', com Falabella, tem farsa de sobra, mas não a rebeldia

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

Como o casal de "O que o Mordomo Viu", no teatro Procópio Ferreira, onde ambos gravaram "Sai de Baixo" por sete anos, Miguel Falabella e Marisa Orth ecoam quase inevitavelmente seus papéis no programa de televisão.

Impressão que é reforçada pelo fato de Falabella repisar muito da interpretação que desenvolve há décadas, desde o besteirol, um pouco derivada do improviso.

Esperava-se mais variação da atriz, até pela nova personagem, sarcástica. Mas a atuação que se revela mais "ortonesca" (expressão usada para descrever o humor farsesco e cínico do autor, Joe Orton) vem inesperadamente de Marcelo Picchi.

Ele faz um psiquiatra que enlouquece cena a cena, durante inspeção ao hospício dirigido pelo "doutor Arnaldo" (Falabella). Os demais personagens são jovens típicos de comédias inglesas, que na montagem servem para algum apelo de seminudez.

Como encenada por Falabella e Cininha de Paula, "O que o Mordomo Viu" acentua a farsa em vez do cinismo e da crítica social. A exemplo da recente produção no West End, a Broadway londrina, em que parece se inspirar, a produção brasileira chega perto de sacrificar uma pela outra.

Faz tudo por uma piada, na maior parte das vezes com sucesso, inclusive na adaptação de referências. Por exemplo, o pênis que some de uma estátua de Churchill e mobiliza a polícia se torna o pênis do "ex-presidente Lula".

É uma peça que não teme ser engraçada e popular, com Marisa Orth e o elenco todo mergulhando no redemoinho de mal-entendidos que torna a narrativa incompreensível.

Mas no caminho acaba perdendo a rebeldia de Orton. Durante três anos, até sua morte em 1967, ele foi a incorporação da radicalidade dos anos 1960 --chegou a fazer um roteiro encomendado pelos Beatles, "Up Against It".

Perseguido como homossexual, preso durante meses por vandalizar as capas de livros de uma biblioteca, levou sua revolta e seu desprezo pelas instituições inglesas para as peças.

Revolta e desprezo a instituições que pouco se veem na encenação brasileira.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página