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Crítica - Romance

Com destreza, autora cria relações entre opressão do passado e os tempos de hoje

CLARA AVERBUCK ESPECIAL PARA A FOLHA

"A Invenção das Asas" é um daqueles raros livros que arranca lágrimas do leitor, não só porque os personagens parecem saltar das páginas direto para sua vida, mas porque é baseado em um momento histórico não distante onde a crueldade do homem branco não tinha limites.

Protegido pelas "leis de Deus" com a desculpa de que estavam na Bíblia e deveriam ser seguidas à risca (remete a algum grupo em nosso país?), ele oprimia as mulheres, mantendo-as como uma propriedade que só servia para casar e obedecer, tinha que ser frágil, dócil e submissa, escravizava os negros, matava, espancava, quebrava os corpos e os espíritos de todos que ousavam se opor a essas tais leis.

Infelizmente isso não pode ser visto com o alívio da distância, pois o reflexo desse momento ainda está em nosso cotidiano, em cada mulher silenciada, em cada negro hostilizado pela cor da sua pele, cada mulher negra tratada como mão-de-obra barata.

A autora conseguiu, com destreza, colocar as opressões de outrora de forma que imediatamente sejam identificadas nos tempos de hoje.

Hetty, mais conhecida como Encrenca, nunca acreditou na história que sua mamã contava, de que os negros possuíam asas antes de serem escravizados e voavam por aí.

Ela é dada como presente de aniversário de 11 anos de Sarah Grimké, primogênita de uma família abastada. Sarah recusa. Ela não aceita a ideia da escravidão. A família se escandaliza: ela tinha que ter uma escrava.

E assim começa a relação das duas, que dura 35 turbulentos anos em que crescem, se afastam e descobrem sobre as dores de viver num mundo desigual.

Sarah é baseada na figura histórica da primeira abolicionista feminista dos EUA, que lutou contra a própria família escravocrata, típica do sul dos Estados Unidos, e que, com a irmã Angelina, escreveu panfletos abolicionistas que estremeceram o país.

Hetty é uma personagem das mais cativantes e que dá voz àqueles que não permitiram que seus espíritos fossem quebrados, ainda que seus corpos fossem brutalizados diariamente.

"Se você precisa errar, erre pela audácia", era o lema da pequena Sarah, bem no início do livro. Tanto a personagem quanto a autora acertaram em cheio. "A Invenção das Asas" é uma obra maravilhosa e necessária não apenas pelo resgate histórico, mas para todos aqueles que algum dia sentiram em seu peito anseios de voz e liberdade.


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