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Crítica - Romance

Trama pouco original tem trechos calcados em clichês

O LIVRO TEM MOMENTOS DE CONSTRUÇÃO CUIDADOSA DE TENSÃO

ADRIANO SCHWARTZ ESPECIAL PARA A FOLHA

Há um problema no fato de que, antes mesmo de a leitura de "Dias Perfeitos", de Raphael Montes, começar, uma propaganda na capa do livro já crie uma expectativa elevada, ao anunciar que se trata de um escritor jovem, premiado e que, segundo Scott Turow, redefinirá a literatura policial brasileira antes de conquistar o mundo.

Parece que não importa muito que o livro não seja exatamente "policial" nem que Scott Turow não esteja entre aqueles escritores conhecidos por seu apurado senso crítico.

Teria sido mais proveitoso para o autor se houvesse algum gasto editorial de energia em aprimorar a linguagem da obra, em desautomatizar as sentenças sempre curtas e a quebra de parágrafos a cada poucas linhas, como se houvesse um lei obrigando a isso, em impedir que trechos tão calcados em clichês, como o seguinte, fossem adiante: "Em sua companhia, a imaginação não tinha limites. O mundo desaparecia e só restava ele. Ele e ela. Gertrudes".

Ainda que o enredo não seja muito original (você já viu alguns filmes em que um rapaz aparentemente normal fica obcecado por uma moça e leva a obsessão a consequências extremas...), há momentos de construção cuidadosa de tensão, um interessante aproveitamento da paisagem do Rio de Janeiro e de seus arredores e alguns personagens secundários bem fundamentados (o mesmo não acontece com os protagonistas: a figura feminina, Clarice, se sustenta muito mais do que seu par, Téo).

Não sei se a literatura policial brasileira de fato precisa ser "redefinida".

Mas, se for esse o caso, isso aconteceu alguns anos atrás, em 1996, quando Luiz Alfredo Garcia-Roza publicou a primeira história do detetive Espinosa, "O Silêncio da Chuva", pela mesma Companhia das Letras.

Se alguém quiser lidar com loucura, violência e enigma na sociedade brasileira, talvez esteja ali um bom ponto de partida.


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