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Livros financiados pela Rouanet viram brindes de Natal

Patrocinadores podem usar 10% dos exemplares para esse fim; restante vai para bibliotecas e para a venda

Segundo editores, incentivo fiscal permite que publicações de luxo cheguem a livrarias por valores abaixo do custo

FABIO CYPRIANO
CRÍTICO DA FOLHA

Já virou tradição de Natal: no fim de ano, grandes bancos presenteiam seus clientes com sofisticados livros de arte, viabilizados por meio da Lei Rouanet -que permite abatimentos no imposto de renda dos patrocinadores que invistam em cultura.

Isso significaria, então, que os brindes de Natal desses bancos estariam sendo pagos pelo contribuinte?

Sim, mas somente em parte. Mais exatamente, de acordo com a lei, o patrocinador recebe 10% da tiragem do livro, para seu uso -e, no caso, essa é a parcela destinada aos clientes.

"Sem lei de incentivo é inviável fazer um livro de arte", defende Isabel Diegues, editora da Cobogó, que neste fim de ano lança o livro "Pintura Brasileira Século XXI", com apoio do Credit Suisse.

No caso dessa publicação, segundo Diegues, foram impressos 3.000 livros com o apoio de lei, pela qual foram captados R$ 316 mil. Desse total, cerca de 900 exemplares devem ir para bibliotecas e instituições públicas.

A publicação chega às livrarias pelo valor de R$ 160. "Sem o patrocínio, teríamos que cobrar pelo menos R$ 300", avalia Diegues.

Segundo a assessoria de imprensa do Credit Suisse, quando há interesse em presentear um número de clientes que exceda a cota de 10%, o grupo arca com a impressão extra de exemplares

No ano passado, a mesma Cobogó lançou "Adriana Varejão - Entre Carnes e Mares", que foi ofertado como brinde natalino pelo banco Pactual.

Em 2011, o Pactual distribui a seus clientes o livro "Cachaça", realizado pelo fotógrafo Araquém Alcântara em sua editora, a Terra Brasil, com texto de Manoel Beato.

"Seria extremamente difícil fazer um livro de qualidade, hoje, sem o apoio de lei de incentivo", conta Alcântara, que já publicou 44 livros sobre o Brasil. "Cachaça" obteve, pela lei, R$ 581 mil.

"Graças a ela posso distribuir quase um terço da tiragem a bibliotecas do país [uma contrapartida obrigatória da lei] e cobrar R$ 120 na livraria, quando o livro não sairia por menos de R$ 220."

Entre as categorias de livros de arte que figuram com mais frequência entre lançamentos de fim de ano, estão os livros de instituições museológicas organizados há 30 anos pelo banco Safra.

"Fazemos isso com o envolvimento dessas instituições, e não entregamos o livro apenas a clientes, mas o distribuímos pelo país", conta o banqueiro Carlos Alberto Vieira, presidente do conselho de administração do Safra.

A publicação do banco neste ano aborda o Museu da República, no Rio, para o qual captou via lei R$ 195 mil.

Segundo Alcântara, "é possível haver desvios no cumprimento da lei" -que está para ser alterada no Congresso- mas, para Diegues, "o controle por parte do MinC está muito mais rígido".

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