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Crítica - Drama

Biografia fetichista esconde papel de Saint Laurent na moda

ALCINO LEITE NETO ARTICULISTA DA FOLHA

Quando a moda francesa foi obrigada, nos anos 1960, a fazer a passagem da alta costura (roupas exclusivas, dirigida a poucos consumidores) para o sistema industrial do prêt-à-porter (produção em série), Yves Saint Laurent (1936-2008) foi uma peça fundamental.

Apesar de sua sensibilidade sofisticada e elitista, ele foi um dos responsáveis por rejuvenescer o estilo francês, acossado na época pela ousadia pop da moda inglesa, a americanização da Europa e as transformações no papel social da mulher e do jovem.

Essa conjuntura não está de todo ausente em "Yves Saint Laurent" (2014), do diretor francês Jalil Lespert. O espectador, porém, quase não a percebe, e menos ainda a compreende.

Isso porque o filme prefere fetichizar o personagem (visto como gênio intempestivo e frágil) e sentimentalizar sua relação com Pierre Bergé (1930), o cérebro empresarial por trás do estilista.

A tentação fetichista impede o roteiro de produzir uma visão objetiva do contexto cultural em que se inseria YSL, de observar com mais complexidade as suas aflições e examinar os confrontos concretos que enfrentou e as outras relações importantes que manteve. Entre elas, a sua relaçãocom Karl Lagerfeld, que, no filme, não passa de adereço narrativo --como, aliás, os demais personagens.

A narrativa é construída de modo panorâmico e ilustrativo, com cenas da vida de YSL e curiosidades biográficas, da juventude na Argélia ao apogeu de sua depressão psíquica e início dos internamentos.

Saint Laurent é interpretado pelo talentoso Pierre Niney, mas o ator por vezes se extravia para a reles caricatura, devido ao excesso de imitação dos maneirismos do personagem real.

Não é apenas o roteiro esquemático e anedótico que decepciona. Com soluções dramatúrgicas previsíveis e estética monocórdia e antiquada, a direção de Lespert também deixa a desejar, e não está à altura dos desafios que Saint Laurent impôs à moda e à sua época.


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