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Mônica Bergamo

BLOGUEIRAS S/A

Como duas jovens paulistanas, uma pernambucana e uma mineira fizeram de seus blogs e perfis nas redes sociais negócio milionário e viraram fenômeno de vendas

Elas não saem da cama por menos de R$ 25 mil. A máxima da top Linda Evangelista se aplica a blogueiras que faturam alto para fazer presença VIP em eventos.

Chegam, sorriem e posam para fotos por cachês iguais aos de estrelas da TV. E é só uma das fontes de renda das paulistas Lala Rudge e Helena Bordon, da mineira Thássia Naves e da pernambucana Camila Coutinho.

O quarteto é expoente de um fenômeno que fez de blogs de moda e perfis nas redes sociais líderes de audiência. Sucesso medido em milhares de "curtidas" no Instagram e em milhões de acessos nos sites. Elas são cortejadas para assinar linhas de grandes marcas e embolsam R$ 7.000 a cada um dos "looks do dia" postados no Instagram, com todas as grifes devidamente listadas. Se o pacote incluir posts no blog e ida a evento, chega a R$ 30 mil. O faturamento mensal é de gente grande: de R$ 100 mil a R$ 300 mil.

O mercado dá sinais de que elas valem quanto pedem. "Blogueiras viraram veículos de comunicação e garotas-propaganda do próprio estilo de vida. São formadoras de opinião mais importantes que atrizes e tops", diz Gabriel Campaner, dono de agência que administra 70 blogs.

Isabel Humberg, sócia do OQVestir, loja virtual com 106 blogueiras, afirma que elas dão mais resultado que anúncio em revistas. "Vendemos 112 calças numa tarde, de R$ 700 cada uma, após a peça ser indicada em um blog."

Com poder de fogo para influenciar o consumo jovem, viraram onipresentes: são embaixadoras em camarote no Carnaval do Rio, como Lala e Camila, estão na primeira fila dos desfiles em Paris, onde Helena virou "darling" (10% dos acessos de seu blog são do exterior), e desfilam em festas badaladas, como o aniversário da própria Thássia, em Uberlândia. A seguir, as quatro blogueiras contam à repórter Eliane Trindade o segredo de serem empresárias de si mesmas.

THÁSSIA NAVES, 25

968 mil seguidores no Instagram e 6 milhões de acessos/mês no blog

"Quando cursava publicidade, um professor falou para eu abrir um blog, que estava deixando de ser só diário virtual. No mesmo dia, fiz em casa um no Blogspot [serviço fornecido pelo Google]. Cresci primeiro regionalmente. Cheguei a São Paulo já grande.

Falo com um público amplo. Vi que deixou de ser brincadeira quando foram me solicitando parcerias comerciais. A primeira foi com uma multimarcas de Uberlândia, onde moro, que fez a ponte com as grifes nacionais. Meu diferencial é a pontualidade de posts, a profissionalização. Recebo propostas todo dia de um milhão de marcas, mas filtro. Ao mesmo tempo que uso bolsa Chanel, coloco uma saia da Zara.

As críticas já me incomodaram. As físicas [falam que nunca sorri nas fotos] aprendi a abstrair. Já falaram para eu fazer plástica no 'nariz horroroso'. Se posto foto minha todos os dias, é por me aceitar do jeito que eu sou.

Eu mesma faço e publico todos os posts. É um diferencial. Percebe-se na hora quando é a blogueira que escreve ou não. Tomo cuidado para não matar os acessos ao blog. Posto lá looks completos e só um detalhe no Instagram. São complementares.

Tenho assessores, mas minha empresa sou eu. É tudo muito novo. A coleção que fiz para a Riachuelo esgotou em dois dias. Não tem mais espaço no blog para anúncios. Poderia lotar de parcerias, mas não ia fazer direito nem dar resultado.

Ganho muito coisa. Após o sucesso do blog, meu guarda-roupa triplicou. Fiz um novo closet de 24 m². Mas sou controlada. Minha maior loucura foram as bolsas Kelly da Hermès [que chegam a custar

US$ 100 mil]. Tenho quatro. Mas sei o valor do meu dinheiro. Meu pai [agropecuarista] me ajuda a investir em boi. Estou construindo meu gadinho."

LALA RUDGE, 24

540 mil seguidores no Instagram 3 milhões de acessos/mês no blog

"Fazia faculdade de direito quando criei o blog como passatempo. Sempre gostei de moda e dava dicas de beleza e viagens. Nunca imaginei que ia virar trabalho. Após três meses, me ligou alguém querendo anunciar. Foi um susto. Chamei minha irmã, que é publicitária, para ser minha sócia.

Compramos um domínio. Nem tinha noção da quantidade de acessos. De dois, três comentários, passou para 80 a cada post. Meu pai [alto executivo do Itaú] começou a não gostar. Acabo tendo que me expor muito, e a internet é terra de ninguém. Tem que ter o psicológico forte. É muita pressão. Para o bem e para o mal. Tem muito elogio, mas também é crítica o tempo inteiro. É o preço a pagar.

Tá valendo a pena. Várias vezes pensei em desistir, mas é isto que [os críticos] querem. Estou conquistando várias coisas por causa dessa vitrine. Larguei a faculdade, quando vieram as parcerias e presenças em eventos. Fazia uns cinco posts por dia. Assinei coleção para a Schutz [sapatos], um sucesso.

O blog dá repercussão, mas não queria ficar só nisso. Lancei uma marca de lingerie e chamei meu irmão, que deixou o mercado financeiro para tocar a empresa. Além da loja em SP, estou procurando ponto no Rio e vamos abrir também em Brasília e Curitiba.

Minha família está sempre presente. Meu marido é um dos meus sócios investidores, assim como minha mãe. Vendo meu estilo de vida. Procurei desde o começo me associar a grifes de luxo que têm a ver comigo para não perder a credibilidade."

CAMILA COUTINHO, 26

651 mil seguidores no Instagram e 6 milhões de acessos/mês no blog

"Criei o blog há oito anos para trocar ideias com amigas sobre celebridades gringas, o Garotas Estúpidas, nome de uma música da cantora Pink. Elas cansaram, eu continuei. Em dois anos, tinha 2.000 acessos/dia. Meu pai, dono de restaurante, disse: 'Filha, tem algo especial aí. Registra esse nome'.

O primeiro anunciante foi uma loja gringa de óculos. Pelo Google Analytics [serviço de análise de frequência em sites], viram muito tráfego do Brasil e entraram em contato para saber quem fez o post. Nem sabia quanto cobrar, mas vi o negócio. Saí do estágio numa marca de surfe e me joguei.

Após a 'Vogue' francesa nos nos incluir entre os 45 blogs do mundo que mereciam ser acompanhados, fui credenciada para as semanas de moda. Faz uns três anos que sento na fila A nos desfiles da SP Fashion Week. A primeira internacional que cobri foi a de Nova York. Entrei em contato com um dos patrocinadores, mandei um projeto e bancaram minha ida.

Como as blogueiras são suas próprias chefes e decidem o que usar, as grifes nos mandam muitas coisas. Meu closet é cheio. Até seis meses atrás, eu cuidava de tudo. Meu escritório é na minha casa, em Recife. Tenho gente no comercial e no financeiro, também em 'home office'. Sou procurada para muitas parcerias. Assinei uma linha para a Dumond [calçados] e as vendas aumentaram dez vezes. O blog me aproxima de meninas que se identificam com meu estilo. Elas gostam de 'Big Brother' e querem ver você se expor e comentar. Lido com isso de forma muito saudável."

HELENA BORDON, 27

263 mil seguidores e 1,1 milhão de acessos/mês no blog

"Foi um bafafá quando disse que não queria mais ser chamada de blogueira, pois acabam não nos levando a sério. O que eu quis dizer é que somos profissionais. O blog e as parcerias tomam todo meu tempo. Tudo começou há dois anos, quando criei o site para dividir dicas de viagem e moda. Morei dois anos e meio entre Nova York e Londres.

Como fiz estágio na Valentino lá fora, as portas se abriram. Fazia de tudo: de limpar o chão a passar roupa que celebridades como Anne Hathaway vestiam no Oscar. Fiz meu 'networking' e tenho sorte de ter minha mãe na 'Vogue' [Donata Meirelles, diretora da revista]. Ela conhece todos os editores e relações-públicas dos anos de Daslu.

Na última semana de moda de Paris, saí numa página inteira na 'Elle' japonesa. Usei um look que a Prada me mandou em um desfile de NY e saiu na star.com, na 'Vogue América' e em todos os sites da revista no mundo.

Lá fora, tenho sempre um motorista com uma van e me troco no caminho entre um desfile e outro. Passo o dia montando e fotografando os looks para o Instagram e o blog.

As grifes mandam muita roupa para eu usar em desfiles e eventos, mas tenho que devolver depois. Também ganho muita coisa. Tenho o cuidado de só usar o que tem a ver comigo.

Você pode se vender e fazer milhões, mas meu público é selecionado. Se não for exclusivo, perde a graça. Os clientes mais legais não ficam se você estiver com todo mundo. Fechei contrato com a Carla Amorim [joalheira] e assinei linha para a Hope [de lingerie]. Tenho cinco funcionários. Agora, quero focar global. Fotografei uma campanha mundial da L'Oréal, ao lado de Jerry Hall. As coisas estão indo bem internacionalmente."


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