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Fernanda Gomes constrói paisagem entre terra e mar

Obras da artista ocupam sala do MAM do Rio com vista para orla e cidade

Ela ficou conhecida nos anos 80 com obras que mesclavam repertório minimalista e objetos íntimos e domésticos

SILAS MARTÍ
NO RIO

Fernanda Gomes espalhou suas obras no chão de uma enorme sala no Museu de Arte Moderna do Rio. Mandou remover as divisórias de gesso e a película escura que bloqueia a luz do sol, abrindo janelas para a vista do mar de um lado e da cidade do outro.

"Queria libertar esse espaço de qualquer interferência", diz Gomes, caminhando entre as peças no museu do aterro do Flamengo, onde faz agora uma retrospectiva. "É uma paisagem poderosa, de mar paradisíaco e vida urbana arrebatadora, caos e riqueza difíceis de absorver."

No caso, são as obras que absorvem esse impacto. Suas esculturas e instalações parecem restos de um naufrágio calculado, esquecidos ali como marcadores de um tempo suspenso entre a fúria da cidade e a calma da orla.

"Arte não precisa ter medo do mundo. Gosto da paisagem aqui dentro", diz Gomes. "É a percepção do espaço que vai se entranhando, um acúmulo de perspectivas."

Desde os anos 90, quando despontou na arte do país, Gomes vem arquitetando essas paisagens minimalistas, de fragmentos de objetos domésticos a planos neutros de madeira, plástico e tecido.

Ela alterna nessas obras a forma pura de telas em branco e restos de madeira e resquícios da vida pessoal, de pontas de cigarro e copos d'água a um paraquedas estendido no chão do museu.

Mas nada disso chega a existir como objeto isolado. Tudo parece sempre depender de sua posição no espaço e se articula em conjunto como um arranjo de formas que se alastram -cenário que desperta mais dúvidas do que consegue oferecer respostas.

"Prefiro a surpresa a algo esquemático", diz a artista. "É um processo lento, de fazer a exposição no lugar, um dia depois do outro. Acaba sendo um amálgama do espaço com a obra, é difícil dissociar uma coisa da outra."

Tanto que, neste ano, Gomes fez outras duas mostras em que o ambiente se fundia com as peças. No Centro Cultural São Paulo, ocupou uma galeria envidraçada, em que a luz do sol mudava ao longo do dia a percepção das obras.

Em Guadalajara, também levou suas peças minimalistas, que arriscam desaparecer no espaço, ao 23º andar de um prédio modernista, com vista panorâmica para toda a cidade mexicana.

Mas em todos os casos, uma coisa prevalece. É a paleta reduzida de cores, brancos e marrons quase apagados, que serve para fazer reverberar o entorno das peças, como se digerisse o espaço.

"Tem o branco que rebate tudo, absorve o tempo, a sujeira", diz Gomes. "É aí que vejo as coisas que não via antes, sinto o espaço no corpo."

FERNANDA GOMES

QUANDO de ter. a sex., das 12h às 18h; sáb. e dom., 12h às 19h
ONDE Museu de Arte Moderna do Rio (av. Infante Dom Henrique, tel. 0/xx/21/2240-4944)
QUANTO R$ 8

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