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Crítica ensaios

Para filósofo, atos de junho foram 'profanações'

No livro 'O Novo Tempo do Mundo', Paulo Eduardo Arantes retoma análises provocativas sobre história e política

Autor aponta a existência de 'um processo de guerra interna não declarada' no país e de criminalização de direitos

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

Protestos, greves e ocupações se multiplicam, e a Copa está aí na esquina. Como entender o contexto mais amplo desses movimentos e a reação do Estado? O filósofo Paulo Eduardo Arantes oferece sua densa visão em "O Novo Tempo do Mundo", que traz um conjunto de textos que trafegam entre história, política, filosofia e teatro.

Para ele, há um "Himalaia de humilhações ressentidas pelos milhões na fila de espera à boca dos guichês de ingresso num mundo afluente que não para de encolher". Na era do capitalismo turbinado pelas finanças, o Brasil se transformou de economia industrial periférica a plataforma de valorização financeira.

O que exige um "estado de emergência econômica permanente". Por isso, na avaliação de Arantes, é central "o Estado-guardião da renda mínima do capital" e a posse "do aparelho político de acesso, gestão e açambarcamento de recursos num universo discricionário de monopólios, privilégios e compadrios".

"Estamos diante de uma máquina infernal de produção de hierarquias e extorsões em todos os recantos de uma sociedade congenitamente regida pelo nexo da violência econômica", resume o autor.

Com essa moldura, Arantes percorre as manifestações de junho, prestes a completar um ano. Na sua definição, os atos foram "profanações cometidas por gente sem nome que não está nem pedindo para sair nem aceitando as porradas da vida".

E o país "não voltará mais a ser o mesmo" depois dos protestos. Avaliando a repressão que houve e a programada para a Copa e a Olimpíada, aponta a existência de "um processo de guerra interna não declarada", e de "criminalização de direitos assegurados pela Constituição".

Combatendo as políticas de segurança, ele afirma que as UPPs no Rio formam "um cinturão de segurança para os megaeventos a caminho". Na estratégia carioca de pacificação enxerga traços da doutrina americana da contrainsurgência, que proliferou aqui a partir dos anos 1960.

O autor não abre espaço para visões róseas: "O empreendedorismo dos pobres não é nenhuma esquina da história nacional, mas uma saída de emergência para o colapso da sociedade salarial no Brasil e no mundo".

O trabalho em tempos de neoliberalismo --"uma verdadeira carnificina" -- é objeto de reflexão no ensaio "Sale Boulot". Nele, o filósofo fala do precário emprego.

Crítico ácido das linhas que nortearam os governos FHC e Lula ("Zero à Esquerda", Conrad, 2004), Arantes retoma sua análise provocativa.

No ensaio que dá título ao seu novo livro, o autor observa uma nova era de expectativas decrescentes e de vivências em regime de urgência. Já o texto "Zonas de Espera" faz o leitor lembrar desde as condições de prisões e de campos de refugiados pelo mundo até das filas prosaicas em fast-foods e aeroportos.

O filósofo fala das "elites cinéticas", que pagam para passar na frente dos mortais comuns e ataca: "O tempo morto da espera punitiva é uma questão de classe".

No prefácio dos textos, o filósofo Marildo Menegat (UFRJ) descreve Arantes como um "intelectual engajado na era do ocaso das utopias", adepto da "crítica demolidora". Afirma que ele é forte influência na jovem intelectualidade que elabora uma crítica radical da sociedade.

De fato, na última página do livro está a foto do autor, megafone na mão, durante as manifestações de junho, numa aula pública convocada pelo Movimento Passe Livre. Aguardemos os novos capítulos dos protestos --ou as novas aulas.

O NOVO TEMPO DO MUNDO
AUTOR Paulo Eduardo Arantes
EDITORA Boitempo
QUANTO R$ 52 (464 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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