Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica contos

Autor faz oposição ao 'esteticamente correto'

Rafael Sperling leva escatologia, violência, internet e delírios a seu segundo livro, 'Um Homem Burro Morreu'

CIRO PESSOA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na última página de "Um Homem Burro Morreu", disfarçado de um posfácio escrito pelo autor, encontra-se um texto chave para o leitor interessado em entender o estilo de Rafael Sperling. "Ok. Eu vou fazer um texto bem bonito. (...) Vou tentar começar. Era uma vez... Era uma vez um lugar. Bem bonito. Assim tá bom? Pra começar?"

Sperling não sabe, ou não quer, ou não pretende escrever bonito. E assim ele conduziu o seu segundo livro por um caminho repleto de escatologia, violência, delírios, ironias e desesperanças.

"Um Homem Burro Morreu" é um livro constituído de 27 pequenos contos, relatos e crônicas. Dialoga com desenhos animados, como em "Bêngolas na Minha Estratosfera Real", que conta a história de um personagem que é sugado pela sua privada e vai parar numa outra dimensão onde encontra o próprio escritor e seu cachorro.

Conversa com a internet por meio das absurdas e inverossímeis histórias que povoam a rede, como parece ser o caso de "Insônia", onde um menino presencia seus pais fazendo sexo. E com o cinema em "Jesus Cristo Espancando Hitler", conto-roteiro em que Cristo tortura, espanca e crucifica Hitler em agonizante câmera lenta.

Mas é a escatologia à la Georges Bataille de "História do Olho" que parece ter seduzido e inspirado Sperling. As fezes ocupam lugar de destaque em seus relatos e aparecem na maior parte deles.

Em "Um Dia Comum para Dante Alighieri", o autor descreve um dia na vida de Dante e sua mulher "num ambiente sujo e fétido, repleto de restos de comidas e lixo espalhado pelo chão (...) com seus filhos pequenos que rastejavam pelo chão da sala usando fraldas que não eram trocadas há vários dias, repletas de fezes (...)".

Há também ecos de Julio Cortázar, como na engraçadíssima crônica "Manual Básico para" e em o "Perigo dos Vulcões". No todo, "Um Homem Burro Morreu" soa como um livro experimental, o que por si só já é louvável nestes tempos de "esteticamente correto e definido" que permeia a arte brasileira.

Ao mesmo tempo, é flagrante o salto que Sperling dá neste momento. Em breve, quem sabe já em seu terceiro livro, o leitor encontrará um Sperling mais definido e menos franco-atirador. Ou não.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página