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Entrevistas 2011/2012 Soledad Villamil, atriz e cantora

Há mais latinos nos EUA, é preciso cativar o público

Em 2012, Atriz de 'O segredo dos seus olhos' volta ao cinema com thriller e lança disco com canção de carmen miranda

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Depois do sucesso com o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010 por "O Segredo dos Seus Olhos", Soledad Villamil, 42, retorna em 2012 com novo filme e novo disco.

Descendente da tradição de cantoras-atrizes argentinas, como Tita Merello (1904-2002) e Libertad Lamarque (1908-2000), Villamil reaparecerá nas telas com "Todos Tenemos un Plan", e na música, com CD que homenageia diferentes gêneros e artistas de países latino-americanos.

Do Brasil, ela escolheu uma canção de Carmem Miranda, "O Samba e o Tango".
Leia abaixo entrevista que concedeu à Folha, em seu estúdio, no bairro de Palermo, em Buenos Aires.

Folha - Por que há uma tradição local de atrizes-cantoras?
Soledad Villamil - Porque o tango é muito teatral. Na sua época de ouro, a música popular estava muito metida no teatro e no cinema.
Mas no Brasil também há algumas, não? Como Carmem Miranda? Vou gravar uma música dela.

Qual? Por quê?
"O Samba e o Tango" é uma comparação entre os dois gêneros. Como vai ser um disco mais latino-americano, com gêneros e canções de vários países, escolhi essa para representar o Brasil.

Como você monta o repertório dos seus discos?
Sempre sob o ponto de vista do espetáculo e de como vou apresentar as músicas. Não gosto só de cantar, mas de trazer ao público a história da canção, seus bastidores.
O repertório eu escolho a partir do meu gosto particular. Eu era muito amarrada ao tango, mas isso mudou.

Como será o próximo disco?
É mais amplo no que diz respeito a gêneros. Há mais canções do meu grupo, e músicas de outros países da América Latina. Haverá uma canção da chilena Violeta Parra, depois músicas mexicanas, uruguaias, brasileiras.

"O Segredo dos Seus Olhos" tem muito em comum com um dos primeiros filmes de Juan José Campanella, no qual você também atua, "O Mesmo Amor, a Mesma Chuva" (1999). Por que um teve muito mais sucesso do que o outro?
Acho "O Mesmo Amor" um filme excelente. Mas Campanella ainda não era muito conhecido, e o filme não teve um bom lançamento. Os dois tratam de histórias de amor que duram muitos anos, mas o "Segredo" toca temas muito fortes, como o da reconstrução da memória, da ditadura.
Além disso, há a história do crime, que gera um suspense e prende a atenção.

A memória da ditadura é uma ferida aberta na Argentina?
Sem dúvida. Ainda que se façam julgamentos, não há como tapar o passado sem o conhecer, ainda é preciso fazer várias perguntas.
O "Segredo" tem o mérito de discutir a violência que havia antes da ditadura. As pessoas não podem pensar que os militares chegaram de um dia para o outro, carregados de ódio, e executaram um plano horrível de repente. O problema veio de antes.

Em "Não É Você, Sou Eu", seu personagem é cômico. E há algo de comédia em seus outros papéis. Gosta do gênero?
Adoro. É mais difícil de construir. Por isso gosto de trabalhar com Campanella. Em algumas cenas, você está rindo; em outras, fica comovido.
Na música, também faço um pouco de comédia no palco. É outra forma de fazer performance.

Como você começou a atuar?
Tinha 15 anos e estudava música. Até que um dia uma amiga me levou para assistir a uma aula num grupo de teatro. Foi um choque e, a partir daí, só quis fazer teatro.
Aos 21, estreei numa versão de "Hamlet", no teatro San Martin. Fazia Ofélia. Ou seja, comecei sofrendo.

E a música, enquanto isso?
Sempre mantive um trabalho paralelo. No final dos anos 90, fiz um espetáculo de teatro musical, "Glórias Portenhas", e meu personagem cantava. Aí me senti segura para me lançar também como cantora.

Como será seu próximo filme?
"Todos Tenemos un Plan" estreia no primeiro semestre de 2012 e é um thriller em que contraceno com o Viggo Mortensen. Ele conhece muito a Argentina porque cresceu aqui. O filme foi gravado no Delta do Tigre e é muito argentino, no estilo, no relato, nos personagens, na história.

Você já teve convites para fazer filmes de Hollywood?
Sim. Depois do Oscar, vieram propostas, mas não curti. Não descarto fazer, mas o que eu faço é muito daqui, de Buenos Aires; se toca as pessoas em outros países é porque talvez as coisas de que trate sejam universais, mas o modo de olhar para elas é muito "criollo" [nascido na América Latina].

Ao estrear "Gato de Botas", o espanhol Antonio Banderas disse que o perfil do ator latino estava mudando: antes era chamado apenas para ser o bandido, agora ocupa postos também de protagonistas bonzinhos. Concorda?
Estou de acordo. O modelo de Hollywood está esgotado, e isso é parte de um movimento maior, de transformação da indústria do cinema.
Há mais latinos nos EUA e é preciso cativar esse público dos que lá estão se tornando protagonistas na vida real.
Mas a crise do cinema é um problema. Hoje vejo muito mais inovação nas séries de TV do que em Hollywood.

Por que o formato de Hollywood está esgotado?
Porque a indústria do cinema virou algo muito caro, no qual a criatividade é um risco. É preciso apostar no que certamente dá retorno. Então o que vemos é uma invasão de filmes comerciais.

O que acha do cinema argentino de hoje? Por que os roteiros são tão bons?
Gosto muito, é um cinema que arrisca.
Desde a volta da democracia, houve um crescimento das escolas de cinema. Há filmes muito bons. Muitos que trabalham em cinema se formaram nessa época. Cultuam esse modo de fazer filmes de forma independente.

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