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Réplica teatro

'Não pretendo fazer tratado sobre Allan Poe'

Encenador da peça 'A Cripta de Poe' contesta crítica de Luiz Fernando Ramos, publicada na Folha no dia 15/12

Espetáculo multimídia inspira-se livremente nas ideias do escritor Edgar Allan Poe

LENERSON POLONINI
ESPECIAL PARA A FOLHA

"A Cripta de Poe", espetáculo multimídia que celebra os dez anos da Cia. Nova de Teatro, em parceria com a Cia. Teatro del Contagio, não pretende fazer um tratado sobre Edgar Allan Poe (1809-49), mas apropriar-se de algumas de suas ideias para construir uma escrita livre, poético-imagética do palco.

Minha encenação de Poe privilegia as monomanias, as repetições frequentes contidas em obras como "Berenice" e "Ligeia", em que os personagens narradores possuem fixações por cabelos, olhos, bocas e dentes; os amores platônicos traduzidos na interpretação evocativa de Paulo César Pereio na vídeo-peça "O Corvo", que permeia toda a encenação, apoiando-se na ideia do "duplo de cada homem".

As questões que assombram o homem contemporâneo, seus conflitos psicológicos, medos e fantasmas, o desconhecido da alma humana, neste caso, são colocados em um plano estético e de reflexão sobre a arte, como no conto "O Retrato Oval".

Crio atmosferas e planos evocados pelo consciente e pelo inconsciente, fundindo figuras distintas no híbrido Poe-personagens. Esse clima, aliado aos movimentos maquínicos dos atores, instaura a estranheza fantástica da obra, ilustrada por ví-

deos, figurinos minimalistas e pela música -uma sinfonia gótica atemporal-, valorizando a narrativa precisa de Poe e atualizando sua obra.

"A Cripta de Poe" convida o espectador a apreciar um olhar diferenciado e provocativo sobre a obra, que se constrói a partir de imagens de forte carga simbólica e de uma coleção de referências.

Mas também revela a necessidade de formação de novos quadros críticos no Brasil, que se proponham a uma reflexão mais aprofundada e propositiva ao analisarem obras com um refinamento estético, que recusam a lógica predominante do teatro tradicional.

Parafraseando Heiner Müller, "a primeira manifestação do novo é o espanto".

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