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Tortura literária

Professora americana elege os clássicos mais chatos da literatura e provoca polêmica entre acadêmicos e autores

MARCO RODRIGO ALMEIDA DE SÃO PAULO

Livros clássicos, diz uma definição famosa, são aqueles que nunca deixamos de ler. Em parte pelo intenso prazer que proporcionam. Em parte porque pode ser muito difícil entendê-los em uma única leitura.

Muitos deles continuam complexos demais mesmo após inúmeras leituras.

Para socorro dos que associam literatura à tortura, entre eles seus próprios alunos, a escritora e professora americana Sandra Newman publicou "História da Literatura Ocidental sem as Partes Chatas", que chega agora ao Brasil.

Trata-se de um guia irreverente sobre alguns cânones, dos clássicos gregos (escritos por volta de 900 a.C.) até William Faulkner (1897-1962).

Ao contrário do que diz o título, o recorte não é tão amplo. A lista é dominada por autores de língua inglesa. Da literatura espanhola só há Miguel de Cervantes (1547-1616). Portugueses e latino-americanos estão ausentes.

"Os editores americanos são muito hostis aos livros desconhecidos pela maioria da população. Queria incluir Fernando Pessoa, mas não houve jeito", diz Newman.

No guia, além de breves textos biográficos sobre os autores, ela faz resumos sucintos e irônicos sobre as obras, apontando, em sua visão, o que merece ser lido e o que pode ser descartado.

Os livros clássicos são avaliados, numa escala de 0 a 10, em três categorias: importância, acessibilidade e diversão.

"No quesito diversão, tentei avaliar tanto a graça da poesia quanto aquela vontade que nos faz virar as páginas dos romances uma após a outra. Não quer dizer se um livro é, ou não, uma obra-prima imortal", explica Newman.

Por esses critérios, o poema épico "Paraíso Perdido", de John Milton (1608-1674), é o maior sonífero (poderia se chamar "Consciência Perdida", brinca a professora).

Como toda classificação desse tipo, a de Newman provoca intensa controvérsia entre escritores e acadêmicos.

Para Luiz Costa Lima, crítico e professor emérito da PUC-RJ, "é um serviço público" denunciar o trabalho.

"Quem é capaz de analisar o conjunto da literatura ocidental? E mais ainda, de julgá-la pelo critério do que é ou não é chato?", argumenta.

"O clássico não é clássico porque seja de imediato engraçado e comovente. De imediato agradável ou desagradável são apenas os produtos culinários", define Lima.

Nos EUA, Newman também revoltou professores ao avaliar (e reprovar) livros canônicos pelo prisma da diversão.

"Talvez não seja o único critério, mas parece uma decisão extrema não levar a diversão em conta. Vários clássicos, como as peças de Shakespeare, foram escritos para entreter. Fico preocupada quando dizem que algo não pode ser importante e divertido ao mesmo tempo."


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