Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

'Todo romance se apoia em uma decepção', diz escritor peruano

Novo livro de Daniel Alarcón, convidado da Flip, chega ao Brasil

JULIANA GRAGNANI DE SÃO PAULO

Uma grande decepção marcou a vida do escritor peruano Daniel Alarcón. Aos nove anos, ele viu dois jogadores de quem era fã, o brasileiro Sócrates (1954-2011) e o francês Platini, perderem pênaltis no jogo entre seus países no Mundial de 1986.

"Eram meus jogadores favoritos. Lembro que fiquei arrasado. Foi uma das lições mais importantes que tive sobre a construção da narrativa dramática. Todo romance se apoia em uma decepção", disse Alarcón, 37, em entrevista concedida após o massacre do Brasil na Copa deste ano, outra desilusão, segundo ele.

O escritor é um dos convidados da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) de 2014. Participa de mesa com a atriz Fernanda Torres, combinação que achou adequada já que seu novo livro, "À Noite Andamos em Círculos", lançado no mês passado no Brasil, é sobre um grupo de teatro em turnê pelos Andes.

O protagonista é Nelson, um ator frustrado de 22 anos que "desaponta constantemente" o autor e o leitor, segundo Alarcón.

"Não significa que seja uma má pessoa", diz, citando o momento no livro em que o personagem termina com a namorada e depois se arrepende."Ele é imaturo. Sócrates não jogava mal. Só errou naquele dia", compara.

O personagem é em parte inspirado no próprio escritor. Nelson quer se mudar para os Estados Unidos, onde o irmão mais velho vive.

"Ele é uma versão de mim, do meu drama imigratório", diz Alarcón, que aos três anos se mudou com a família para os Estados Unidos. Como seu primeiro livro, "Rádio Cidade Perdida", "À Noite..." foi escrito em inglês. É a língua que deixa Alarcón, considerado um dos autores mais promissores de sua geração naquele país, mais confortável para escrever, como diz.

"É uma história do que teria acontecido comigo se não tivesse saído do meu país."

O escritor deixou o Peru em 1980, ano em que foi desencadeado um conflito armado entre governo e grupos guerrilheiros; durou até 2000 e deixou quase 70 mil mortos.

O embate é pano de fundo da história, que se passa em tempos diferentes. Nelson reencena uma peça censurada durante a guerra. Com ele, está também Henry, autor do texto e ator que fora preso em 1986 acusado de terrorismo por causa do espetáculo.

Para construir a parte da narrativa que se passa na cadeia, Alarcón se baseou no maior presídio do Peru, Lurigancho, onde ministrou oficinas em 2009 e sobre o qual escreveu um artigo para a "Harper's Magazine" em 2012.

A história de Nelson e Henry é narrada por um jornalista que reconstrói a viagem do grupo teatral entrevistando amigos e familiares.

Mas o leitor não sabe por que a história deve ser reconstituída por outra pessoa --e o testemunho desse narrador dá um ar de mistério ao romance, algo policialesco como as obras do chileno Roberto Bolaño (1953-2003), uma referência de Alarcón.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página